O VOO FANTASMA
Alessandra estava
atrasada para o voo. Isso nunca tinha acontecido, mas naquela noite seu
namorado estava mais amoroso do que nas vezes anteriores. Evidente que resultou
em uma noite muito quente.
Claro que as
ausências dela por conta do seu emprego tinham a ver com esses encontros
acalorados.
Alessandra sabia,
desde pequena, o que seria quando crescesse. Uma aeromoça, ou comissária de voo como se chama hoje. Sempre brincou de avião e fazia suas maquiagens imitando
uma aeromoça.
Fez o curso quando
completou dezoito anos e agora tem 30 anos, e já percorreu o mundo inteiro e
conheceu muita gente.
Infelizmente como
viaja muito não tem tanto tempo para sua família e até mesmo para namorar.
Namorados foram raros em todos esses anos voando pelo planeta.
Alguém pode
perguntar por que ela não arrumou um namorado entre os colegas de trabalho. Por
incrível que pareça ela nunca se interessou por colegas... Apenas uma vez
namorou um co-piloto que era uma gracinha, segundo ela. O romance durou seis
meses, ele foi para outra empresa de aviação e não se viram mais.
Seus pais que
sempre reclamavam. Queriam que ela se casasse e tivesse filhos. Esperavam
netos. Mas não era tão simples. Era um sonho de criança e estava vivenciando
isso.
Nunca teve medo
de voar. Mesmo com alguns acidentes que aconteceram com outras aeronaves isso
não diminuiu sua paixão por aviões.
Era uma moça
muito bonita e simpática. Querida por todos. Sempre tinha um sorriso franco e
aberto.
As crianças que
mais gostavam dela nos vôos. Sempre brincava e arrumava um brinquedinho para
elas.
Somente uma vez
ficou perturbada.
Ela estava
escalada para o voo n. º JJ3054, que ia para São Paulo, mas por conta de uma gripe fora de hora acabou pedindo a uma colega que a substituísse. Não teve
nenhuma dificuldade nisso, afinal era muito querida pelas colegas.
O problema foi
que aconteceu uma tragédia. O voo que deveria estar e foi substituída por causa
da doença acabou saindo da pista molhada quando aterrissava e explodiu ao bater
no hangar da própria companhia. Não houve sobreviventes. 196 pessoas que
estavam no avião e mais quatro pessoas que estavam no prédio morreram
instantaneamente.
Alessandra ficou
chocada e com um sentimento de culpa durante muito tempo. Afinal, era ela que
deveria estar no avião, além de que todos os tripulantes eram seus amigos. Era
uma sobrevivente, de certa forma.
Mas já se
passaram alguns anos e ela retornou ao seu trabalho.
Hoje estava
atrasada.
Ao chegar ao
aeroporto foi direto para a sala de espera e não viu mais ninguém, com certeza
já estavam no avião. E isso a fez correr pelos corredores do aeroporto. A porta
estava já quase se fechando quando entrou. Tão rápido que não viu nem o rosto
de sua colega que estava fechando a porta do avião. Agradeceu e foi para o seu
local.
Como normalmente
ela era a chefe da equipe, Alessandra tirou seu casaco e se posicionou de
frente para os passageiros e começou a entoar a informação sobre o que fazer em
caso de desastre, como utilizar o oxigênio e o que fazer em caso de queda,
mostrando as saídas de emergências nas laterais, localizadas nas asas e nos
fundos da aeronave.
Dito isso, pediu
para colocarem os cintos que já iam decolar. Dirigiu-se então para o seu local
onde se sentou e também colocou o cinto.
Tão cansada
estava que não percebeu que ficou sozinha no local, onde normalmente ficam ao
menos três comissárias.
O avião taxiou,
se preparou para a decolagem e após o comandante fazer os avisos de praxe sobre
cinto e aparelhos eletrônicos iniciou o procedimento de decolagem.
Atingiu a velocidade
necessária e logo subiu aos céus.
Quando o avião
atingiu a velocidade de cruzeiro, se levantou, e começou a preparar o lanche
para os passageiros. Foi quando viu as suas amigas, no entanto, elas estavam
com o rosto meio encoberto e nada falavam, apenas concordavam com acenos para
Alessandra.
Ela achou
estranho, mas continuou o que estava fazendo.
Quando ela se
posicionou para entrar no corredor com o carrinho de lanche foi que ela prestou
atenção pela primeira vez aos passageiros do voo.
Ninguém olhava
para ela.
E pior ainda.
Estavam meio transparentes. Impossível!
Mas, foi quando o
comandante abriu o microfone para falar que Alessandra soube o que estava
acontecendo.
- Aqui é o
Comandante, estamos sobrevoando já em São Paulo e muito em breve pousaremos no
Aeroporto de Congonhas. Estamos no Airbus A320, voo JJ3054 com destino a São
Paulo. Um bom voo e aproveitem a sua estadia.
De repente Alessandra estancou e na mesma hora gelou.
Um arrepio passou pela sua espinha e se instalou na nuca. Ela conhecia esse voo.
Ela estava no
avião que bateu no próprio prédio e explodiu, após perder o controle na
aterrissagem, por conta da pista molhada. Não houve sobreviventes.
Estava em uma
aeronave fantasma... Um voo fantasma.
E eles vieram
buscá-la. Afinal ela fazia parte daquele voo e por causa de um impedimento o
havia perdido, morrendo uma colega em seu lugar.
Agora não teve
mais como impedir o destino.
Alessandra nunca mais foi vista.
Antonio Henrique Fernandes Neto
Autor e Capitão
deste Navio Errante.
Oh, my God!!! Tô chocada aqui... Esse conto teve um toque de "Premonição" - o filme. - Eu jamais imaginaria esse final... simplesmente surreal... Parabéns, Ricky! Conto perfeito para uma data perfeita =)
ResponderExcluirObrigado Van...premonição foi a inspiração. mas o final foi bem diferente né... afinal ela deveria ter ido no dia.
ExcluirNossa, foi demais... adorei esse conto, foi um dos melhores do dia!
Excluirmais uma vez obrigado...
ExcluirAntonio, você tem o dom da escrita! Este conto é incrível e tem um final surpreendente!
ResponderExcluirMuito bom mesmo! Parabéns!
Obrigado Babi, não foi fácil, mas saiu o meu conto de terror e fico feliz que tenha gostado.
Excluirbjs
Ai que louco isso. rs
ResponderExcluirParabéns pelo conto Antonio, mas fiquei com um frio na espinha aqui.
Gosto as vezes de ler algo mais forte e seu texto veio em boa hora.
Beijos
www.amorliterario.com
Obrigado Fê, fico feliz que tenha gostado e que tenha se assustado um pouco hehehehe.
Excluirbjs
Cruzes,que história é essa,ainda bem que sai dessa profissão e hoje sou só Agente Aeroportuário,fiquei com medo agora,hahahaha.
ResponderExcluirótimo texto apesar de assustador,hahaha.
bjs
Olha só que coincidência Simeia, mas lembre-se que é apenas um conto... assusta, mas é só um conto hehehehe.
Excluirbjs
Jesuis até arrepiou parabéns Antonio adorei e a forma como envolve o leitor é perfeita. Tadinha dela , mas a morte não pode ser enganada né rsss. abraços
ResponderExcluirJoyce
www.livrosencantos.com
Pois é Joyce, não dá pra enganar a morte. ela sempre dá um jeitinho de conseguir o que quer. e obrigado pelo elogio.
Excluirbjs
Parabéns pelo conto, Antonio! É curto, objetivo, mas consegue criar perfeitamente um clima de tensão e suspense.
ResponderExcluirBjos
Obrigado Ana, como era um texto curto minha preocupaçao era justamente conseguir criar um clima que causasse um desconforto. e que bom que gostou.
Excluirbjs
Olha eu aqui!! Meu amigo só você pra me fazer ler um conto de terror, mas ó, eu amei ok?
ResponderExcluirbjokas dessa sua fã-leitora.. ;)
Oi Tê,
Excluirfico feliz que tenha gostado. e que bom que veio hehehehe
bjs
Olá Antônio
ResponderExcluirCara, que conto sensacional! Confesso que me causou arrepios kkk
Abraços
estantejovem.blogspot.com.br
E aí Paulo Henrique,
Excluirque bom que gostou, e que se arrepiou hehehehe
um abraço
EEEEEU HEIN, Antonio!!!! :O
ResponderExcluirQue medo desse seu texto, haha. Lembrou-me um pouco da série de filmes "Premonição", nos quais a morte acaba perseguindo quem devia ter morrido. Assustador! Coitada da Alessandra, mal pôde aproveitar a oportunidade que a vida tinha lhe dado.
Beijos!
http://www.myqueenside.blogspot.com
Oi Francine,
ExcluirDiferentemente da série Premonição, neste caso os que morreram voltaram só para levar ela que deveria estar junto. hehehehehe.
bjs
Puxa vida Antonio!
ResponderExcluirAdorei o conto!!!
Tem mais?
Vc conhece a editora Estronho?
Ela sempre está a procura de contos assustadores para suas antologias!
Certeza de que vão gostar!
Beijokinhas!
Giane, esse foi especialmente para o dia das bruxas, mas posso providenciar mais. não conheço essa editora, mas vou dar uma procurada. e obrigado por ter gostado do conto.
Excluirbjs
Coitada dessa Alessandra :O
ResponderExcluirQuero mais contos assim, por favoooor *-*
Alessandra, fico muito feliz que tenha gostado deste conto, linda. Mais contos de terror? providenciarei.
Excluirbjs
Ah! Antonio que medo. Eu hein!!!
ResponderExcluirVocê tem o dom da escrita e deveria publicar as suas produções. Tenho os seus textos e adorado, como sou tanto quanto medrosa, não gosto de terror. Mas, os contos de outros gêneros que ler com certeza.
Parabéns pela produção que está um primor.
Bjs
Tânia Bueno
www.facesdaleiturataniabueno.blogspot.com.br
Oi Tânia,
Excluirobrigado, e estou pensando realmente em publicar meus contos. além desse de terror tenho mais dois contos completos. só clicar em CONTOS DE NAVEGANTES e poderá acompanhar todos eles.
bjs
Boa noite,
ResponderExcluirComo esta?
Adorei *-*
Prende bem a atenção do leitor do inicio ao fim...você tem talento,meus parabéns :)
Abraços e desde já bom final de semana
www.rimasdopreto.com
Olá Sandro,
ExcluirObrigado pelo elogio. um ótimo final de semana.
abraços
Conto legal!
ResponderExcluirParaben Antonio :D
Abraços
David Andrade
http://www.olimpicoliterario.com/
Olá David,
ExcluirValeu. obrigado pela visita.
um abraço
Que tensão e suspense..... AMEI o conto,fiquei eletrizada até chegar ao fim,você escreve bem demais!!!! Me prendeu desde a primeira linha....
ResponderExcluirbjsss
Apaixonadas por Livros
Oi Biazinha, obrigado pelo elogio, minha preocupação era justamente em um texto curto prender o leitor e causar aquele arrepiozinho hehehehe.
Excluirbjs