...
Gostaria de saber onde estavam
seus companheiros. Ali não restava muita alternativa, teria que achar outra
saída ou esperar seus colegas. A perspectiva não era muito agradável...
Voltou
para a porta e percebeu que o foto estava perigosamente próximo. Não havia
umidade. O que significava que o pessoal de fora ainda não tinha chegado com as
mangueiras até aquele ponto. E não tinha como saber se os demais cômodos já
estavam com o fogo controlado. Paciência. Deveria ter paciência. Voltou para a
janela e inspecionou mais uma vez. Se não tivesse opção teria que dar um jeito de quebrar aquela janela.
A fumaça estava mais densa e
agora o fogo já estava na porta, sem ajuda não seria possível sair dali.
Imediatamente voltou seu rosto
para a menina que ainda estava assustada, mas aguardava sentada na cama.
Fernando pegou um lenço e colocou no rosto, enquanto a menina usava a sua
máscara e o oxigênio.
Em algum outro ponto do prédio
o capitão e seus companheiros procuravam algum meio de conseguir encontrar
Fernando.
- Alguém sabe dizer como chegar
até onde está Fernando, COM SEGURANÇA?
- Capitão, este prédio é um
pouco antigo, com paredes sólidas, e com vários apartamentos por andar, e um
corredor no meio. O ponto onde a parede caiu fica exatamente no meio do
corredor e a escada ficou do lado de cá. Não tem elevador. Para chegar até ele
temos que dar a volta por algum outro apartamento. – Respondeu Rogério, que era
o melhor amigo de Fernando. Entraram juntos na academia e se formaram juntos.
Desde então estão na mesma companhia de bombeiros.
- E há algum apartamento que
ainda não tenha sido atingido pelo fogo? – perguntou o capitão, preocupado com
o seu soldado preso talvez em uma cortina de fogo.
- Cap pelo lado esquerdo do
corredor o fogo ainda não está incontrolável. Mas teremos que usar um aríete
para arrombar as paredes.
- Muito bom então. É o que
faremos. Alguém já verificou se há mais alguém no prédio ou foram todos
retirados?
- Confirmado. Mais ninguém no
prédio. Somente nós, Fernando e possivelmente a garota. A mãe continua
desesperada lá do lado de fora querendo saber notícias.
- Por enquanto não temos nada a
dizer. E alguém verifique as mangueiras dos caminhões de água lá fora se estão
conseguindo controlar o fogo. E tragam mangueiras aqui para dentro. Temos que
atacar em duas frentes. No mínimo para trazer Fernando e a menina em segurança.
O prédio não importa. E sim as vidas. – mandou o capitão a seus homens.
- Certo. VAMOS GENTE. – chamou
Rogério.
Havia preocupação nos olhos de
todos ali. Talvez não houvesse tempo para chegar onde estava Fernando e a
garota. Até porque ainda precisavam identificar o local exato. E o terreno estava
ficando perigoso.
Fernando começava a ficar
preocupado. O fogo aumentava rapidamente, ele já estava sentado ao lado da
cama, mas antes tinha tirado toda a roupa de cama e outros tecidos para evitar
que o fogo se alastrasse mais rápido e continuava a proteger Fernanda. Havia um
guarda-roupa velho que usou como anteparo para o fogo, pois tinha derrubado a
porta, mesmo assim a fumaça entrava e o fogo pouco a pouco consumia o velho
móvel.
Pela sua experiência não teriam
muito tempo, caso seus amigos não chegassem.
O
segundo dia mais feliz de Fernando (o dia em que entrou para o Corpo de
Bombeiros é o primeiro, claro) foi quando conheceu e se apaixonou por Maria
Clara. Não demorou muito e estavam namorando, e mais um pouco já estavam
noivos. Foi tão rápido e normal que isso acontecesse que quando chegou o
casamento foi tudo muito festejado. A festa de casamento foi linda, com seus
companheiros, e ele mesmo, todos vestidos com seus uniformes de gala. Dois anos
depois Maria Clara deu a terceira melhor notícia de sua vida. Estava grávida.
Essa notícia foi na noite anterior.
Fernando pensava em Maria
Clara. Estavam ambos muito felizes. Ela tinha feito exame e constatado que
estava esperando um bebê e na noite anterior deu a notícia. Ele ficou
extasiado. Ia ser pai. Tudo na sua vida tinha sido perfeito. Só alegria. E
agora estava naquele quarto, protegendo uma menina que não era sua filha, mas
que daria sua vida, pelo juramento que fez. Era um soldado. Um soldado do fogo.
O fogo continuava se alastrando
e agora estava muito próximo... Já havia chegado e passado pelo guarda-roupa.
Era questão de minutos que chegasse até onde estava.
Não tinha medo da morte. Só
lamentava não ter conseguido salvar a menina e não ter condições de ver seu
filho ou filha nascer e crescer. Maria Clara entenderia. Afinal era o serviço
dele.
Abraçou a menina que estava
cada vez mais assustada e tremendo. Era consolada por Fernando que dizia que a
qualquer momento seus amigos chegariam e salvaria a ambos.
Começou a rezar. Agora só mesmo
um milagre poderia salvá-los.
No mesmo instante ele quase
ficou cego por uma luz que adentrou no quarto. Ele colocou as mãos na frente
dos olhos para se proteger e conseguiu ver a fonte da luz. A luz era muito
forte, mas ele conseguiu identificar uma silhueta enorme, apontando para uma
das paredes do quarto... Parecia um homem com... Asas? Estaria vendo coisas? A
proximidade da morte estava pregando peças em Fernando?
Fosse quem ou o que não
importava, estava apontando para uma parede e de repente Fernando ouviu batidas
na parede. Segundos depois a parede caiu e em meio à fumaça entraram seus
companheiros. O primeiro a lhe ver foi seu amigo Rogério.
Imediatamente entregou Fernanda
a Rogério que a envolveu em uma manta à prova de fogo e foi passando para os
demais bombeiros.
- Cara, que bom que chegou
agora, já tinha perdido as esperanças. Como conseguiram me achar? – perguntou à
Rogério.
- Nando, não sei dizer ao
certo, mas quando estávamos procurando um meio de lhe encontrar eu vi uma luz
no corredor e, por mais maluco que pareça, apontava para uma das paredes.
Peguei o aríete e os outros me seguiram. Perguntaram o que eu estava fazendo e
eu disse que tinha uma intuição. E falei que tinha uma luz apontando para
aquela determinada parede. Eles não viam luz alguma, mas assim mesmo insisti, e
a cada parede derrubada eu via a luz, como se estivesse me conduzindo. Sempre
apontava uma parede e a gente quebrava. Foi assim que chegamos até aqui. E
agora vamos embora que o fogo aqui está insuportável. E ainda há o perigo do prédio velho ruir.
- Certo. Vamos embora.
Pegou suas coisas e seguiu os
colegas de farda. Estava emocionado. Aparentemente o milagre que pedira em
oração aconteceu. Alguém, ou algo conduziu seus amigos até onde estava. E a luz
que viu dentro do quarto era justamente o aviso que seus amigos estavam
chegando.
O que seria aquela luz. Será
que era mesmo uma luz? Poderia ser um anjo? Pensou ele. Acreditava em anjos,
acreditava em Deus e em sua bondade infinita e mais do que nunca ali ele pensou
que fora atingido pela bondade dele. Ou não era sua hora e nem da menina.
Quando estava saindo do prédio,
já em segurança ouviu um toque no seu relógio à prova de água e fogo: era meia
noite do dia 25 de dezembro. Foi quando
lembrou que o fogo começara na véspera de Natal. E lembrara também que Maria
Clara pedira que não atendesse o chamado, pois tinha uma angústia muito forte
apertando-lhe o peito. Alguma coisa ruim aconteceria.
Às suas costas o prédio enfim
caiu. Vencido pelo fogo.
Fim.
Antonio Henrique Fernandes
Autor e Capitão deste Navio Errante.
Final lindo demais, arrasou Tonho
ResponderExcluirObrigado Skye (Dai). há tempos queria escrever um conto natalino, mas nunca tinha conseguido o tema. desta vez não escapou hehehe.
ExcluirLindo!! Parabéns Tonho fiquei arrepiada
ResponderExcluirObrigado, acho que era essa intenção... causar alguma coisa, afinal tem certas coisas que estão faltando em nosso mundo.
ExcluirGostei muuito do final, os textos ficaram maravilhosos! Parabéns :)
ResponderExcluirAh, vi que achou a segunda parte. hehehehe
Excluirobrigado Dryh e fiquei feliz que tenha gostado.
bjs
Oi Antonio, não lembro se li a 1º parte, mas ta lindo, envolvente. Na boa me arrepiei
ResponderExcluirhttp://realidadecaotica.blogspot.com.br/
Oi Brubs, a primeira parte está disponivel, se quiser depois ler os dois só visitar a pagina de contos.
Excluirobrigado e fico feliz que tenha gostado.
bjs
Oie, tudo bom?
ResponderExcluirAdorei o desfecho do conto. Foi emocionante, criativo e instigante. Acho que muitas vezes a vida nos indica caminhos que realmente parecem ter sido feitos por anjos.
Beijos!
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/
OI Aline,
Excluiracho que você conseguiu enxergar aquilo que eu escrevi e ir além. sim, muitas vezes nossos caminhos são trilhados com os anjos.
bjs
Legal Antonio, contar historias sobre bombeiros já é ótimo, afinal são guerreiros que vivem para proteger as pessoas. E você ainda incluiu um toque natalino com esse suposto anjo de luz, parabéns!
ResponderExcluirAbraço,
Diego de França
www.leitorsagaz.com.br
E aí Diego,
Excluirgosto muito dessa profissão e quando fui fazer o conto de natal nao pensei duas vezes, tinha que ser com um bombeiro. e anjos estão presentes em todas as religiões, tudo questão de fé.
um abraço,
Olá... História muito linda e emocionante um belíssimo conto de natal um verdadeiro milagre... quando temos fé podemos ir para qualquer lugar, porque Deus está onde estamos e onde o procuramos... adorei a mensagem revelada e significativa.. parabéns.... Xero!
ResponderExcluirOi Diana,
Excluirobrigado, a minha intenção era essa, passar a mensagem de fé, crer sempre.
bjs
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirO final do conto ficou ótimo, e nada melhor em um conto no dia do Natal que algo envolvendo um pouquinho de milagre, literalmente uma luz no fim do túnel, rs.
Parabéns
beijos
http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/
Oi Bruna,
Excluircom certeza todos nós precisamos de um pouquinho de milagre, que a fé seja mais forte do que qualquer coisa.
obrigado.
bjs
Oi oi!! Não sou a maior fã de contos, mas gostei muito do seu! Ainda não tinha lido a primeira parte e li, amei esse final, adorei a forma como escreveu sobre o tema Natal!
ResponderExcluirParabéns, amei, beijosss,
http://www.thousandlivestolive.com/
oi Gab,
Excluirobrigado linda, fico feliz que tenha gostado. volte sempre. há outros contos.
bjs