Capítulo NOVE
Duryn
Estava anoitecendo quando chegou a primeira delegação, a da Casa Real de
Durant. Lorde Durant, sua esposa Mira e seu filho Jon foram recepcionados pelo
próprio Rei Geldar que os aguardava na entrada do palácio real.
- Como foram de viagem? Espero que tenha corrido tudo bem. – disse o
Rei, com sinceridade. Fazendo gestos para que ficassem à vontade.
- Ah, sim Majestade, a viagem foi tranqüila e estamos ansiosos para
rever Alexia. A última vez que a vimos ela era uma adolescente espevitada. –
respondeu Lorde Durant, sorrindo. Jon ficou um pouco vermelho com a declaração
do pai.
Mira estava um pouco acima do peso e naquele momento era só sorriso, mas
já aguardava ansiosamente pelos quitutes que seriam servidos durante o baile de
apresentação.
- Muito bem. Avalon lhes mostrará os seus aposentos. Dentro de pouco
tempo começará o baile, estejam prontos.
- Muito obrigado. Vamos Mira, Jon. Não podemos nos atrasar. – saiu
fazendo uma mesura para o Rei Geldar.
Enquanto isso Avalon apresentou-lhes um criado que os acompanharia para
os aposentos e ficou ao lado do rei, havia muita gente ainda para recepcionar,
era só a primeira delegação.
Lorde Durant era um senhor de mais ou menos 50 anos. Estava ficando
careca e era baixo, e diferente de sua rechonchuda esposa ele era bem magro. E
tinha um bigode maior que o rosto, firmemente cultivado desde a sua juventude.
Casou tarde e teve um filho tarde. Sua esposa era quinze anos mais nova e tinha
quinze de idade quando casou com o Lorde e logo engravidou. Jon estava
completamente 20 anos. Era um rapaz magro, baixo, cabelos curtos, mas bonito.
Era tímido e muito inteligente. É claro que Lorde Durant tinha intenção que
Alexia o escolhesse afinal, se isso acontecesse fariam parte da Casa Real de
Duryn. Seriam parentes do Rei Geldar.
O Governador de Argento tinha chegado mais cedo e já estava se
preparando para o baile, juntamente com sua esposa e filhos, todos
adolescentes. Das cidades era o primeiro a chegar. Mesmo não sendo um nobre das
Casas Reais de Poder, era um aliado importante e por isso fora convidado
juntamente com a família para a festa de aniversário de Alexia.
Do lado de fora do palácio, nos arredores a festa já corria solta.
Muitos mágicos, artistas mambembes e lutas estavam acontecendo. O povo aplaudia
e gritava feliz. Todos davam vivas à Alexia, desejando felicidades.
- Senhor, a segunda delegação está chegando. – avisou Avalon.
- Muito bem, vamos recebê-los.
E seguiram para recepcionar os convidados seguintes.
De um planeta próximo chegou o Governador da única cidade instalada,
Karks, e juntamente com ele veio o filho, um soldado que esperava fazer parte
do exército do Rei Geldar e assim fazer carreira. Era um jovem alto, musculoso
e porte imponente. Claro que se ele fosse o escolhido da princesa isso iria
facilitar muito. Dizia-se que ele era um excelente esgrimista, ágil e mortal.
- Sejam bem vindos, e espero que gostem de suas acomodações. – disse o
rei gentilmente.
Avalon deu as mesmas instruções que os primeiros convidados e cedeu-lhes
um criado que iria ser o guia.
Mal despachou os membros de Karks e já chegaram mais convidados. Agora
era a Casa Real de Petry. Na frente vinha o Lorde Petry e sua esposa Ona, atrás
vinha o arisco filho deles, Andor.
- Meu Caro Petry, como está você? Ona? E este é o rapagão de seu filho.
Andor, se não me engano?
- Sim Senhor. – disse Andor, abaixando-se fazendo uma mesura para o rei.
- Façam de conta que estão em sua casa, por favor. – e gesticulou para
Avalon que do mesmo modo que os demais convidados passou um criado para Lorde
Petry e família e os levou até os seus aposentos.
- Se Andor conquistar Alexia aí sim nós nos sentiremos em casa. –
gracejou o Lorde para sua esposa que respondeu rindo baixinho. Andor ficou
admirado com o tamanho do palácio e com a grandeza da festa.
Nada foi esquecido, por todos os cantos havia flores e a cor azul
espalhada nos brasões. E representações de Alexia em todos os tamanhos e
representando todas as épocas de sua vida.
Enquanto os convidados iam chegando, Alexia estava em seu imenso quarto
se preparando e com ela havia cinco criadas. O vestido era azul, belíssimo,
logo, cheio de pedras. Iria usar a tiara que sua mãe usava; toda cravejada de
diamantes. O seu cabelo loiro estava em duas tranças, devidamente ornamentado
com fios de prata e flores. Sentada na cama, também linda, mas um pouco mais
comportada estava Nínive, que não usava um vestido azul, esta noite era um
privilégio de sua irmã mais velha. Mas iria entrar no imenso salão com ela, de
mãos dadas.
Do lado de fora do quarto, compenetradíssimo em seu trabalho estava Alex.
Estava usando sua roupa de gala, todo preto, com a espada na cintura, bota
espelhando, de tanto que estava polida. O que ele sentia por Alexia não iria
tirar o foco de sua missão, que era justamente ser a sombra dela. Mas não iria
atrapalhar a sua noite. Ficaria perto, mas praticamente invisível. Sua rede de
soldados pessoais estava espalhada pelo palácio. Muitos deles se vestindo como
convidados, e outros estrategicamente colocados em alguns pontos do lugar. Se
algo desse errado na festa não seria por sua culpa nem pelo seu trabalho, que
até aquele momento era perfeito.
Outros convidados continuavam a chegar. Inclusive de outros planetas
próximos que também estavam ali para apresentar seus filhos para a princesa.
A Casa Real Arduyns foi a próxima a chegar. Lorde Arduyns e sua esposa
Tanya estavam entre os mais próximos do Rei Geldar, pois Tanya era prima dele,
o que fazia de Serge, o filho do casal, o favorito a ser escolhido pela
princesa. Mas é claro que a decisão seria dela, sem influências. Serge era
bonito, cabelos pretos a despeito do cabelo loiro de Tanya, alto, musculoso,
inteligente e exímio esgrimista. Tinha tudo para ser um ótimo combatente e
representar à altura sua casa.
- Arduyns, como você está meu velho? – perguntou o rei.
- Me sentindo exatamente isso... Um velho. – gracejou ele. – Mas uma
festa assim faz a gente remoçar um pouco.
Em seguida Geldar abraçou com carinho sua prima que retribuiu e lhe
apresentou Serge, que acenou para o Rei Geldar com respeito.
- Espero que gostem de suas acomodações. O Avalon vai indicar um criado
que lhes conduzirá para os seus aposentos. E não esqueçam que dentro de uma
hora começa a festa. Não se atrasem.
- Pode deixar que não nos atrasaremos. – argüiu Lorde Arduyns.
Cada casa chegava ao palácio com sua família e uma pequena delegação e
alguns soldados que era para sua proteção. Como eram tempos de paz era mais uma
demonstração de tradição do que realmente esperar algum perigo. Os soldados iam
para os seus aposentos e logo voltariam a ficar próximo da família da Casa
Real. Os outros eram criados que ficavam nos aposentos para tratar das roupas e
dos objetos que cada um trazia. Tudo tinha que estar na mais perfeita ordem.
A última casa a chegar foi a Casa Real Travis. E pela fachada no rosto
do Lorde Travis, Geldar viu que alguma coisa tinha acontecido.
- Meu caro amigo, vejo que tens problemas. – disse o rei ao abordar o
Lorde.
- Sim, e o negócio é sério. Quando tivermos um tempo só para nós quero
lhe falar.
- Muito bem, após o baile de apresentação podemos ir para meu escritório
e ali conversaremos sem interrupções. Mas, por enquanto vamos aproveitar a
festa. Sasha, você como sempre belíssima e este é o rapagão do Mir? E essa
mocinha linda ao lado dele... Só pode ser Misha, não acredito que já está desse
tamanho.
- Sim, ela cresceu rápido. E se não me engano sua outra filha tem mais
ou menos a mesma idade dela. – disse Sasha, toda orgulhosa.
- Nínive está com 11 anos agora e tenho certeza que irão se tornar
amigas. Logo ela estará aqui e poderão deixá-las juntas.
Mir era um cavalheiro. Não tinha noção alguma do que era ser um soldado,
mas era inteligente e gostava de ler. Inclusive escrever. Era um autor já com
algumas obras publicas no reino. Na avaliação de Geldar, Mir seria um excelente
marido para Alexia.
Aos poucos tudo se ajeitava e as principais casas e reinos já estavam no
palácio. Ninguém havia faltado.
Avalon coordenava tudo com maestria. O grande salão de festas estava
todo preparado. Dentro de minutos os convidados entrariam e ficariam no aguardo
da Princesa Alexia. Geldar foi para o ponto principal do salão, onde ficava o
trono, de onde tinham duas cadeiras, onde normalmente se sentavam as duas
filhas. Geldar não teve herdeiro homem, mas isso não fazia diferença para ele.
Amava as filhas e faria por elas o que estivesse ao seu alcance para serem
felizes.
Aos poucos os convidados iam chegando ao salão e se colocando nas mesas
com uma prévia identificação, assim não haveria confusão e nem favorecimento de
quem ficaria mais próximo ao rei, e nesse caso as mesas ficaram um pouco
distantes do trono. Acima do trono havia uma estátua enorme segurando com uma
mão uma espada e na outra um cetro. O CETRO REAL. Aquele que todos achavam que
se tratava de uma lenda.
Em cada porta havia um soldado para guardar e defender. No meio do salão
estava tudo limpo, pois haveria danças e Alexia iria dançar primeiro com o pai
e depois com cada príncipe ou filho nobre das Casas Reais. Afinal era seu
aniversário, mas tinham que manter uma tradição antiga.
O Rei Geldar foi até onde estava Santo.
- Santo, como estão as coisas dentro e fora do palácio? – perguntou ele
ao seu chefe da guarda.
- Majestade, tudo está em perfeita ordem. Do lado de fora o povo está em
festa, mas de forma ordenada. Sem grandes bagunças, tirando os bêbados de
sempre. E metade do exército está lá para manter a segurança de todos. Os mais
agitados estão sendo levados para um determinado local para depois passar o
efeito da bebida. E aqui dentro está tudo normal. Sem novidades. Parece que não
teremos problemas.
- Muito bem, Santo, espero mesmo que tudo continue assim. Alexia merece
uma festa memorável. E por falar nela, vou ver como ela está.
- Alex está lá, pronto para ser a sombra dela. – disse o capitão.
- Certo. Vamos até lá.
E seguiram para o quarto de Alexia que aquela altura estava ansiosa,
pois só tinha visto agitação do lado de fora do palácio pela sacada de seu
quarto e agora teria que descer para o salão e se apresentar oficialmente como
Princesa de Duryn e herdeira do trono. Mas o fato de ter que escolher um
pretendente para seu consorte lhe tirava qualquer alegria pela festa de aniversário.
- Mana, não se preocupe. Não vou deixar nenhum chegar perto demais de
você. É só me dizer quem não gosta e eu distraio ele. – disse a pequena
princesa rindo.
Alexia também riu e acenou para ela, concordando. E isso fez Nínive rir
como nunca. Tirando a diferença de idade, pareciam duas parceiras de
molecagens. E Nínive era quem colocava alma naquele palácio. Não ficava ninguém
imune às suas travessuras. Iria sim aproveitar muito a festa.
Alguém bateu à porta.
- Princesa?! – Era Alex. – Seu pai está aqui. Está na hora.
Uma criada abriu a porta para o rei entrar e assim entraram também Santo
e Alex. E quando Alex a viu teve que muito esforço em se manter indiferente.
Estava preparado para uma guerra, mas não para aquilo!
Alexia estava deslumbrante. Não parecia uma princesa, e sim uma rainha.
Seu cabelo repartido em duas tranças com fios de prata e ornamentado por flores
de diversas tonalidades que combinavam direitinho com seu cabelo dourado. O
vestido era azul com pedras, e tinha uma abertura nas costas que só era coberto
pelos cabelos. A tiara que usava lhe dava um ar que a deixava muito parecida
com sua mãe. Usava luvas brancas que iam até o cotovelo e um anel dourado com
uma pedra azul, símbolo de Duryn na mão direita.
Geldar engoliu em seco quando viu sua filha pronta.
- Filha, você esta simplesmente linda. Acho que nenhum homem neste
palácio hoje deixará de ver o quanto está perfeita.
- E será a inveja das mulheres. – completou Santo.
- Concordo. – acenou o Rei. – Vamos minha filha. É sua hora. Hora de se
tornar herdeira de Duryn, com tudo o que você tem direito.
Alexia passou os braços pelo braço direito de seu pai e foram juntos.
Nínive estava toda serelepe e foi se juntar a Alex que a pegou do mesmo jeito
que Alexia e o pai e trocaram olhares cúmplices. Santo veio logo atrás.
E foram todos em direção ao salão.
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