MEU TRABALHO, NA POLÍCIA
Tenho 25 anos de serviço na Polícia Civil do meu Estado de
Rondônia, trabalhando como Escrivão de Polícia e em todos esses anos já vi e
vivi muitas situações, não só de risco, mas de emoção e decepção.
Vi muita gente passar pelas delegacias por onde trabalhei,
pessoas simples, humildes, pessoas arrogantes, advogados bons, outros de porta
de cadeia, juízes, promotores, delegados amigos, outros nem tanto assim.
Certa vez quando meu avô Antonio Henrique (o velho Tota)
ainda era vivia e era casado com a segunda mulher (que não era minha avó),
esta, fazendo valer suas origens baixas, atacou meu avô após uma crise de
bebedeira, que o velho Tota infelizmente fazia parte. Resultado da briga foi
uma visita à delegacia onde eu trabalhava. Imagine chegar para trabalhar e em
determinado momento você vê uma pessoa que ama ali, ferida, ensanguentada. Revolta
é pouco. Infelizmente, por conta das nossas leis a pilantra não foi presa.
As decepções aconteceram com alguma frequência, pois em
várias oportunidades me vi no papel de policial fazendo o trabalho de
indiciamento de algum conhecido, amigo de infância ou de escola. É uma situação
delicada e desconfortável. Até hoje lembro de um deles, Erick, que estou comigo
no Colégio Dom Bosco, que enquanto fazia o meu trabalho comentou: “Puxa vida
Henrique, como é a vida né? Estudamos juntos, em um dos melhores colégios da
cidade, crescemos e a vida me transformou em um ladrão e você em um policial”. Isso me marcou muito. E outra vez foi ver a
derrocada de um outro amigo de escola, que fora preso por duas ou três vezes em
meu plantão, tudo por conta de drogas. E este último a vida ainda foi mais
ingrata. Quando eu penso que a droga teria destruído a sua vida, me deparo com
a notícia que ele tinha se transformado em um professor, casado e constituído família,
apenas para ser refém de índios revoltados com o governo e morto por sua intransigência.
Claro que nem tudo é tristeza ou notícias ruins. Vi muitas
coisas boas também. Muita gente que a Polícia ajudou e que ficaram muito
agradecidos, coisa rara nos dias atuais.
Talvez o caso que mais me emocionou recentemente foi o caso
da menina Ana Beatriz, de dois meses (na época). A mãe foi colocada em um
carro, com uma desculpa qualquer e os ocupantes do veículo tentaram matá-la, não
conseguindo por pequenos detalhes, mas ainda assim sequestraram e levaram a
bebê. Foi um trabalho minucioso, delicado e dedicado por parte de nossa
delegacia, onde teve policial que virou noites e dias à caça dos bandidos.
Até que um dia a nossa sorte virou. Através de uma denúncia anônima
conseguimos localizar o paradeiro da criança. Prendemos os envolvidos e a
melhor parte foi quando devolvemos a filha para os braços de sua mãe. Todos aplaudiram
e foi difícil segurar as lágrimas.
Ainda tenho mais um tempo na polícia e provavelmente verei
ainda muitas ocorrências criminais, e mais histórias. Quem sabe o que nos
aguarda.
Antonio Henrique Fernandes
Capitão
deste Navio Errante.
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