Capítulo DEZ
Desfiladeiro das Lágrimas

Tinha gente que jurava ter visto sombras onde não havia nada
anteriormente e até mesmo o som de pessoas chorando. O mais comum eram ouvir
ruídos de lutas, espada contra espada. Enfim, se você não tinha um assunto
qualquer que o motivasse a andar pelo desfiladeiro, evitá-lo era quase sagrado.
Exatamente por esse motivo, bandidos de toda sorte se escondiam ali.
Renegados, exilados e párias dos reinos se escondiam nas centenas de cavernas
daquele labirinto.
Os guerreiros, no entanto, agiam com cautela para não serem vistos. A
missão era a única coisa que importava e o seu mestre não tolerava falhas.
- Vamos com isso. – sussurrou o chefe daquela milícia. E com isso os
incitava a se apressar.
- Ali. Aquela caverna com um símbolo estranho na entrada. – o símbolo
parecia uma espada atravessando um objeto esférico. Conforme foi passado aos guerreiros
era exatamente essa caverna que eles deveriam encontrar.
- Muito bem, vamos entrar. Bor e Zunir ficam na entrada. Não deixem
ninguém se aproximar, muito menos entrar, ouviram? – ambos acenaram a cabeça e
sacaram suas espadas. – O restante vem comigo.
E assim seguiram o chefe para o interior da caverna. Acenderam algumas
tochas que haviam levado e adentraram na escuridão. Para sorte dos soldados não
havia nenhuma trilha que os fizessem se separar do caminho. Eles apenas
desciam. Em alguns momentos parecia que escutavam vozes ou lamentos, o que
fazia com que eles se apressassem.
Quando as chamas estavam quase se apagando, por falta de oxigênio, isso
já muito abaixo da entrada da caverna, eles o encontraram. Um poço.
Com muito cuidado o líder se aproximou do poço, fez um reconhecimento
parcial. A abertura era um pouco larga, uns três metros de diâmetro e nas
bordas havia algumas rochas e isso era um bom sinal. Poderiam amarrar as cordas
que trouxeram nelas. Ele se aproximou um pouco mais e jogou uma pedra para
ouvir até onde ia. Alguns segundos depois ouviu-se o bater da pedra nas rochas
logo abaixo. “Ótimo, está seco”, pensou ele.
Determinou que amarrassem as cordas nas rochas próximas à borda e em
seguida jogaram as cordas dentro do poço. Era preciso coragem para descer
naquele poço escuro. Não sabiam o que iriam encontrar. Mas o medo maior eles
tinham de seu mestre.
O líder dos soldados e mais um se prepararam para descer, cada um
segurando uma tocha. Os demais ficaram vigiando na borda do poço e cuidando da
segurança. Os dois seguraram as cordas, apoiaram as pernas da borda e se
jogaram. Segundos depois estavam no fundo do poço seco.
- Merda! – praguejou o líder.
- O que foi? – perguntou o outro soldado.
- Isso não estava no programa. Veja! – e apontou para outra caverna que
ficava nos fundos do poço seco.
- Caramba! E agora? O que faremos?
- Continuaremos procurando. Provavelmente temos que seguir esta caverna.
Eu pensei que o que procuramos estivesse já aqui no fundo. Pelo visto vamos
andar mais um pouco. – e indicou ao soldado que fossem mais para o interior da
caverna, ao mesmo tempo em que avisou aos demais que continuariam a procura.
O túnel era comprido. Como era um poço, aquele túnel era possivelmente a
entrada da água em tempos imemoriais, e que agora estava seco. Deveria ter até
mesmo uma saída, pois dava para sentir uma leve brisa.
Quando chegaram ao fim do túnel viram que ainda havia água, apenas não
havia o suficiente mais para chegar até ao poço. Era como se fosse um pequeno
lago de águas escuras. Sua aproximação fez com que os pequenos habitantes do
lugar se agitassem e saíssem dali.
- Filho de mil vermes!! Eu odeio morcegos. Transmitem doenças. – gritou
o soldado. O seu líder, mais pragmático simplesmente se abaixou e deixou os
morcegos todos saírem. E quando não havia mais nenhum deles ele passou o olhar
pelo local, tentando encontrar alguma coisa.
Foi quando ele viu.
Uma pequena e quase escondida luz na cor amarela.
“É ela”, pensou o soldado.
- Ali. Está vendo? No lado noroeste do pequeno lago? Há uma luz que de
vez em quando some. Como há algum vento aqui deve fazer uma pequena onda que
esconde por alguns momentos.
- E se for algum animal que passa ali? – disse o soldado receoso.
- Deixe de coisa. O que poderia viver ali dentro? Ande. É você que vai
lá. Tire a espada e parte de sua armadura e vá até lá. O local é raso, senão
não conseguiríamos ver a luz.
Com receio o soldado tirou sua espada e a parte de cima de sua armadura
e entrou na água, segurando a tocha. Foi andando na direção da pequena luz
bruxuleante. E como o outro falou era realmente raso, a água não passava da
altura da cintura do homem.
Não demorou muito e chegou onde estava a luz. Deixando um braço para
fora, o que segurava a tocha ele mergulhou e pegou o objeto. Era uma pequena
gema que tinha um brilho forte na cor amarela. Sorriu e voltou-se com o intuito
de sair da água. E em seguida seu sorriso desapareceu tão rápido quanto veio.
Alguma coisa raspou pelas suas pernas.
- Chefe. Tem alguma coisa na água. Acabei de sentir. – disse o soldado.
Já começando a andar depressa dentro da água.
- Venha rápido. Não podemos perder essa gema. É de suma importância para
o Mestre. – disse o líder gesticulando para que o soldado andasse depressa.
Quando sentiu novamente algo roçar nas pernas o soldado gritou.
- Jogue a pedra. Em seguida eu te ajudo. Vamos!
O soldado apavorado pegou a gema e jogou para o seu líder, que sorriu ao
pegar e olhar para a gema. A missão estava cumprida. Colocou no bolso e se
virou no exato momento em que o pobre soldado era engolido pelas águas. O que
quer que fosse o puxou para dentro da água, da qual não saiu nunca mais.
Segundos depois a água estava normal e não havia mais nenhum sinal de luz.
Não demorou muito e chegou ao fundo do poço onde estavam as cordas.
Jogou a tocha no chão e começou a subir. Momentos depois ele estava no topo,
sendo ajudado pelos demais que indagaram a ele sobre o companheiro. Ele apenas
deu um aceno negativo com a cabeça e todos assentiram, percebendo que algo
havia acontecido e o pobre homem tinha morrido.
Seguiram então para a entrada da caverna, onde estavam Bor e Zunir que
ficaram de guarda. O problema era que os soldados não estavam em seu lugar.
Quando jogaram as tochas e saíram da caverna onde a luz do sol era mais forte, demoraram
em perceber que estavam cercados por bandidos. Bor e Zunir estavam rendidos,
suas espadas tomadas e agora eram reféns de cerca de uma dúzia de surrados
renegados.
- Ora, ora, vejam o que temos aqui. Soldados. E não se vêem muitos por
aqui. A não ser que estejam procurando algo. E é claro que esse algo deve ser
valioso. E algo valioso merece estar com a gente, não é mesmo meus amigos. –
disso o homem que parecia o chefe do bando, enquanto seus companheiros riam.
- Vocês não sabem com quem estão se metendo. Acho melhor deixar a gente
ir e os deixaremos vivos.
- Valente. Eu gosto disso. Mas acho que não deve ter contado direito.
Somos a maioria e estamos com dois homens seus em nosso poder.
- Vou avisar mais uma vez. Deixe-nos ir e sairão daqui com vida. Caso
contrário, têm apenas mais alguns segundos de vida. – disse, já segurando com
força o cabo da espada, enquanto a outra mão estava nas costas.
- Assim que nos entregar o que foram buscar. Aí terão o passe para sair
daqui. Com vida. E com um aceno determinou aos que mantinham os soldados reféns
que os matassem. Imediatamente os renegados cortaram os pescoços de Bor e
Zunir, que caíram agonizando no chão, com o pescoço jorrando sangue para todos
os lados.
O líder dos soldados, com a mão que estava às suas costas puxou algumas
adagas e lançou-as atingindo nesse ato pelo menos cinco dos renegados, enquanto
os demais ficaram espantados com a velocidade do homem.
Aproveitando que estavam em choque o soldado partiu para cima, junto com
os seus companheiros e o que se seguiu foi uma carnificina. Os renegados não
tiveram qualquer chance e o ultimo a cair foi justamente o seu chefe, que teve
o corpo trespassado pela espada do líder dos soldados, que apenas observou o
corpo cair lentamente, o homem com os olhos arregalados.
- Muito bem, meus bravos, vamos sair daqui antes que outros decidam
fazer o que esses idiotas fizeram. Não temos mais tempo a perder aqui. E deixem
os corpos dos renegados para os animais. Eles também precisam se alimentar.
Enquanto os soldados juntavam os corpos de seus companheiros, o seu
líder pegava a gema no bolso de sua calça e a olhava com admiração. Era uma
bela gema, na cor amarela e brilhava muito. Não era pesada. Para uma gema de
poder não parecia muita coisa. Só o que a distinguia de outras era o fato de
brilhar. Em seguida guardou-a novamente e saíram do Desfiladeiro das Lágrimas
que agora teria mais lágrimas a soltar pelos mortos recentes.
-x-x-
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