quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O REINO DO CETRO - Capítulo Onze - Tulan

Capítulo ONZE

Tulan


- Você?! Mas como pode? Teria que ter mais de 300 anos!! – Disse eu, completamente espantado. E surpreso ao mesmo tempo, pois o meu mestre não aparentava ter mais de 50 anos.

- Sim. Lembra que eu falei que um mago pode ter seus dias alongados, e isso depende muito do que ele faz com a sua magia? Então. Como mago não sou imortal, mas posso cuidar para ter uma vida longa e isso eu consegui por causa da minha magia, que é boa. Desta forma consegui desacelerar o envelhecimento. E eu tinha um ótimo motivo para fazer isso. Evitar outra crise envolvendo o nosso famoso Cetro Real. E se eu tiver tempo, um dia lhe mostro como fazer.

- Hum. – De repente fiquei pensativo. – Não sei não. Talvez eu não queira ficar tanto tempo assim vivo. Ainda mais que não terei Cibele. É por isso que você não tem ninguém? – Perguntei curioso.

- Sim. Quando eu era jovem e forte, assim como você, eu também tive um amor. Mas com a guerra do cetro e minha responsabilidade em fazer com que desaparecessem com o cetro e as gemas do poder acabei retardando meu envelhecimento, mas não pude fazer isso com ela e vi a vida retirar todos os seus anos, até que um dia fiquei só. Enterrar a minha esposa foi a dor mais profunda que eu tive. E nunca mais me envolvi emocionalmente com ninguém.

- E me fale mais sobre as gemas. – Eu disse.

- Como eu falei anteriormente, cada uma tem um poder, mas separadamente não fazem muito estrago. Elas juntas no cetro, que é o único objeto construído para canalizar o poder das gemas, aí sim. São poderosas. E para evitar que caíssem em mãos erradas foram retiradas do cetro e escondidas em locais que ninguém imagina. Ninguém além de mim, dos lordes da época e alguns magos da minha ordem sabem. Ou assim eu pensava. Pelo visto mais alguém sabe e eu não consigo vislumbrar quem. Era um segredo muito bem guardado.

- E como tem certeza que alguém mais sabe? – Perguntei.

- É o assunto desta missiva. Na Casa Real de Travis havia uma pequena estatueta e ela foi levada por ladrões há alguns dias.

- Mas mestre. O que essa estatueta tem a ver com o cetro ou as gemas?

- Simples. Dentro dela a gema que representa a casa de Travis estava guardada. – Respondeu Demetrides.

- Nossa! Uma das gemas. Mas o ladrão poderia ter levado por engano, ou por azar.

- Eu não acredito nisso Layo. De todas as peças valiosas que havia na sala da Casa Real, a estatueta era a menos valiosa; era bonita sim, mas era de barro. Quem levou provavelmente sabia o que continha.

- Eu ainda tenho minhas dúvidas. Acredito que tenha sido apenas um roubo normal.

- Layo, queria ter a sua fé. Mas de qualquer maneira uma jóia só não dá trabalho. Ficarei muito mais preocupado se acontecer o mesmo com todas as outras.

- Mestre, quanto falta do meu treinamento?

- Não muito, você está praticamente iniciado nas artes da magia. Sabe já praticamente tudo. Poções, magia, transfiguração, invisibilidade... essas habilidades serão muito úteis. Agora vamos treinar a telepatia. Assim poderemos conversar entre nós através da mente.

- Ah, que maravilha. E posso usar isso com Cibele? – Perguntei completamente ansioso.

- Sim, se você controlar bem a sua mente e estiver bem focado. – Respondeu.

Durante aqueles dias Demetrides ensinou-me como usar a telepatia.

- Abandone tudo o que tem na sua mente. Concentre-se na pessoa em que você quer ter contato. No caso, eu.

Eu estava sentado em uma pedra do lado de fora da cabana de Demetrides; fechei os olhos e tentei me concentrar, tirando todos os outros pensamentos de minha mente. Tentei visualizar meu mestre dentro da cabana... E o que vi me fez tomar um susto e quase cair da pedra. Eu REALMENTE o visualizei. E Demetrides estava olhando para mim. Levantei-me, ajeitei-me na pedra novamente e voltei a me concentrar. Quando aconteceu a mesma coisa eu já estava preparado.

- “Layo. Está me ouvindo”? – Disse uma voz em minha mente.

- “S-sim mestre. Estou”. – Respondi visivelmente emocionado.

- “Creio que você teve uma visualização de onde estou e o que estou fazendo”. – Continuou a voz na minha cabeça.

- “Mestre, eu pude vê-lo, claramente, como se estivesse ao meu lado”.

- “Sim. E isso é uma capacidade que poucos têm. Parabéns Layo. Você está quase pronto. E será um mago poderoso. Fiz bem em treiná-lo. Será um mago melhor que eu”.

- “Fico lisonjeado mestre, mas melhor que você, acho que nunca conseguirei”.

- Você tem ótimas habilidades, é jovem, leal, e será também um excelente conselheiro. – Disse Demetrides, desta vez ao meu lado. Caí da pedra, levado pelo susto em ver o meu mestre ao meu lado.

E fiquei ainda mais espantado quando vi meu mestre saindo da cabana.

- M-mas, mas, mestre, você estava aqui, do meu lado, como pode estar aí, quando na realidade estava aí dentro e não aqui, mas estava aqui... Ahhhhhhhhh, vou ficar maluco. – Disse, dando tapas em minha cabeça. E olhando da cabana para o local onde tinha visto Demetrides.

- É outra habilidade muito útil. Você poderá estar em outro lugar fisicamente, sem sair do local de origem. E isso exige mais treinamento. Eis o livro que ensina. Estude-o, treine até a exaustão. Não quero nada menos que a perfeição. Como eu disse, isso será muito útil a você.

Peguei o livro e sai ainda espantado com o que o mestre havia feito.

Fui direto para a minha cabana. Lá tomei um banho e fui estudar o livro. Meu treinamento havia se intensificado ainda mais do que eu esperava. E isso porque estava quase pronto. Ao menos já conseguia me comunicar telepaticamente com meu mestre. E tive uma ideia naquele momento.

Sentei-me na cama, esvaziei a minha mente de pensamentos e tentei visualizar Cibele. E fiquei me concentrando, até que minutos depois uma imagem foi se formando em minha cabeça. Era Cibele... estava na cozinha de sua casa, ajudando a mãe a fazer a janta. Estava cortando alguns alimentos para o cozimento. “Bom, já consegui visualizar. Agora, será que ela vai me escutar”? Pensei. Durante alguns minutos enquanto via Cibele, tentei falar com ela, sem êxito, até que...

- “Cibele? Amor”?

A garota parou o que estava fazendo e com olhos arregalados olhou ao seu redor. Somente viu seus pais, a sua mãe na cozinha, preparando o jantar e o seu pai já na mesa, tomando sua bebida. Quando ela achava que tinha sido apenas impressão sua, falei novamente em sua mente.

- “Cibele, você está me ouvindo”? E quando ela arregalou ainda mais os olhos, eu dei um sorriso. “Sim, eu sei que está. Estou conversando com você em sua mente. Não se assuste. É uma habilidade que Demetrides me ensinou e que estou praticando”. Expliquei.

Mesmo assim Cibele saiu da cozinha e foi para o seu quarto rapidamente, dizendo que iria pegar alguma coisa.

- Layo, é assustador sim. Como é que pode estar na minha mente? – Disse ela, em voz alta.

- “Amor, não fale alto... Tente falar comigo pela mente. Concentre-se. Pense em mim. Só em mim. E depois que conseguir isso, fale”.

Cibele se sentou na sua cama e fechou os olhos com força. E tentou. E tentou. E tentou. Depois de alguns minutos ela desistiu. Não conseguia se concentrar o suficiente. Mas ainda ouvia a minha voz na sua cabeça. Até que, vendo a dificuldade dela, não pedi que continuasse. Despedi-me e disse que no dia seguinte iria visitá-la.

Ela ainda assustada retornou à cozinha e nada disse a seus pais, que nada perceberam.

No dia seguinte, logo cedo ela foi correndo até a minha cabana. Eu ainda estava dormindo. Ela me encontrou na cama, somente com minha calça, e parcialmente coberto pela coberta. Ela sentou-se perto de mim na cama, acariciou-me o cabelo, afagou meu rosto e quando fiz alguns movimentos deitou-se ao meu lado. Fazia dias que eu não a visitava por conta dos treinamentos e ela estava igual ao seu cabelo... puro fogo.
Acordei e a vi. Ela já tinha tirado a sua roupa e estava nua. Tinha o corpo muito bonito, bem torneado, forjado no trabalho que ela ajudava em casa e com o pai. Não era uma moça fraca. Seus seios eram médios e perfeitos. Olhei para ela em todo o seu esplendor e em seguida aproximei-me do rosto dela e a beijei, talvez da forma mais apaixonante que nunca. De uma forma delicada, mas buscando-a, sentindo-a. em seguida a fiz deitar na cama e dei outro beijo. Fizemos amor durante algum tempo. E quando estávamos cansados ficamos lado a lado na cama, ela com a cabeça no meu peito.

- Layo, o que será de nós?

- Ficaremos juntos. Sempre! Custe o que custar. Segundo o Demetrides, eu já estou quase pronto. E acredito que logo poderei sair daqui. E você vai comigo.

- Vamos nos casar?

- É claro, meu amor. Para onde eu for, você também irá. – Disse, fazendo um carinho no rosto dela.

- E como você fez aquilo? – Perguntou ela.

- Aquilo o que? – Ele perguntou de volta, fazendo uma cara bem curiosa.

- De falar comigo daquele jeito. Eu ouvi sua voz na minha mente.

- Ah, sim. Foi parte do treinamento de Demetrides. E eu achei muito bom. Quando precisar e se precisar eu falo com você assim, dessa forma. Acho muito útil. Acho que se eu me concentrar bem posso fazer isso com qualquer um. Já pensou eu falar com seu pai na mente dele? – Disse rindo.

- Meu pai iria largar tudo e correr, e ainda iria pensar que estava enlouquecendo. – Riu ela.

- É verdade. Mas não se preocupe que não vou fazer isso com o seu velho não. Ok?

- Obrigado amor, senão depois ele não deixa a gente ficar junto. Ele já é reticente com você, imagine se fizer isso.

- Pensando bem, é melhor ficar quieto.

Como eu não tinha treinamento naquele dia e ela não faria nada, ficamos o dia todo juntinhos, aproveitando cada momento juntos. De repente tive uma espécie de premonição: os dias calmos em Tulan estavam para acabar.

No final da tarde, recebi uma mensagem telepática de Demetrides. Ele se ausentaria por alguns dias, mas em breve estaria de volta. Até lá era para eu continuar com o meu treinamento. Ele iria cobrar quando retornasse.

Achei aquilo estranho, pois Demetrides nunca se ausentava... por nada. O que estaria acontecendo. Será que tinha alguma relação com a estatueta desaparecida e com a gema em se interior? Talvez. Mas isso ainda não era preocupação minha. E de qualquer forma ainda pensava que se tratava de uma bruta coincidência.

Se Demetrides participou pessoalmente da missão de esconder as pedras e o cetro e seria o único vivo, era impossível que alguém soubesse o paradeiro de todas elas.

Fiquei tranqüilo e continuei meu treinamento. E li muito, pois queria fazer a mesma coisa que Demetrides. Estar em um lugar e aparecer fisicamente em outro. Isso sim seria uma ótima coisa a fazer. Pensava em quantas pessoas assustaria com essa magia. Só em pensar nisso eu ri sozinho, como um bobo.


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