Resenha do
livro Sobre Mocinhos e Bandidos
Falar sobre a dicotomia mal e bem,
bom e mau é sempre muito difícil, é um terreno pantanoso, do mesmo jeito que
falar sobre o amor. Há sempre mil maneiras de escorregar e acabar saindo
daquela linha que separa o senso comum do ridículo.
Fábio Diaz Mendes apresenta em
Sobre Mocinhos e Bandidos 22 contos onde ele exemplifica o uso do mal e do bem.
Exatamente onde termina um e começar o outro? Quando ser mau acaba sendo uma
necessidade? Quando ultrapassamos a margem que separa um do outro? É evidente
que quando lemos os noticiários diários, sejam televisivos ou digitais nos
deparamos com diversos casos envolvendo pessoas que passaram por essas
experiências.
Nem sempre dá para definir um do
outro, ou seja, preto no branco, e passamos a passear por uma estrada mais
cinza, onde um fato, ou circunstância transforma um cidadão comum em um agente
do mal... ou do Bem.
Posso dizer que saboreei cada um
dos 22 contos. E fiquei impressionado com a fidelidade de todos eles com a nossa
realidade. Infelizmente passamos por um período difícil em nosso país, com leis
e atos que dão a entender que o cidadão tem menos direitos do que os
criminosos. Trabalho há 25 anos na Polícia e já vi centenas de casos
semelhantes aos apresentados pelo autor.
E acrescento que foi muito difícil
discernir o fictício do real. Cada conto, em sua particularidade, me dava um
tapa de realidade. É muito fácil ficar revoltado lendo um conto de Sobre
Mocinhos e Bandidos, e algumas vezes até é possível entender o lado do
personagem, afinal, o que aconteceu ali poderia acontecer com qualquer um, até
mesmo com você, ou comigo.
Um dos contos que mais me
identifiquei foi o que retratou uma saidinha de banco, primeiro porque é um dos
crimes que eu, como Escrivão de Polícia, trabalhei por diversas vezes,
inclusive com resultados fatais, por reação da vítima, por nervosismo do
criminoso que acidentalmente atirou, ou até mesmo por pura crueldade. Alguém
sai do banco com muito dinheiro e do lado de fora, dois bandidos (ou mais) em
um carro ou moto, sendo a moto mais usada por ser prática na hora da fuga,
abordam a vítima, depois de receber a dica de quem estava no interior do banco,
um comparsa que pode estar lá apenas observando quem saca grandes somas ou até
mesmo um funcionário do banco.
Há um conto sobre acidente
automobilístico, com vítima fatal, provocado por imprudência. Tudo por conta de
uma decisão errada. Acontece com mais frequência do que a gente pode imaginar.
Eu mesmo fui vítima de um, onde duas pessoas próximas morreram.
E tem um conto de uma página só.
Sensacional.
O livro todo é uma mensagem que nos
faz refletir sobre o ser humano, sobre decisões que tomamos que afetam outras
pessoas, que pode ser legal, ou ilegal, às vezes legal, mas imoral. Vivemos um
mundo cruel, cru e que depende muito do ser humano para continuar. No entanto,
é justamente por isso que devemos aprender, com os nossos erros e com os dos
outros.
O mal está aí, convive de mãos
dadas com o bem, mas para qual caminho seguir só depende de uma decisão. Só
uma.
Recomendo.
Antonio Henrique Fernandes Neto
Resenhista do Arca Literária.
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