Um abraço a todos e um FELIZ ANO NOVO repleto de paz, saúde e realizações.
2ª parte do conto...
Alfredo e Colares partiram junto com os demais. Colocaram os
coletes que levavam no carro e o armamento pesado. Cada um com um fuzil. Alfredo
estava preocupado, mas Colares, divertia-se com a situação.
— Cara, isso está empolgante. ‘bora dar um fim nesses
traficantes de meia tigela.
Ao mesmo tempo que acenou para seu parceiro, seguiu na
frente, indicando que ele seria o chefe e que fariam como ele determinasse.
Alfredo não tinha dúvidas disso e faria exatamente o que mandassem.
No entanto, tinha um péssimo pressentimento sobre essa
noite... talvez tenha sido alguma coisa que a Vera, sua esposa tenha dito, ou o
seu filho, não querendo deixar ele sair para trabalhar.
No fundo, essa situação nova, provavelmente foi o que mais
lhe deixou preocupado. Sentia-se como sendo guiado. Não quis participar do que
estava pensando com seu parceiro por achar que estaria sendo infantil. Ele ainda
diria que era bobagens.
Confiou no instinto e em sua fé.
Sempre fora um homem de fé. Desde criança, quando chegou a
ser coroinha na igreja da paróquia. Estudou em colégio de padres e quando todo
mundo achava que seria padre, resolveu estudar direito e fez concurso para a
Polícia. Ainda não tinha convicção em si mesmo para fazer um concurso para
delegado e então fez para investigador. A ideia era angariar experiência na
profissão para aí então tentar ser delegado.
Mesmo assim sempre tinha uma medalhinha com a imagem de Jesus
pendurada no peito. Dizia a Vera que era sua proteção. Mesmo assim ela afirmava
para ele não brincar... era para usar o que realmente protegia... o colete.
— Meu amor, eu sei que sua fé é imensa, mas use o colete. Não
tem problema algum adicionar uma proteção a mais. — Dizia ela.
— Ok, Ok. Está bem. Eu usarei.
Percebera que a noite ficara mais fria. A brisa que vinha do
mar fez Alfredo tremer de frio. Seria um aviso? Balançou a cabeça negativamente
e tentou pensar apenas na missão.
— Alfredo. Veja ali. Tem movimentação perto daqueles contêineres.
— Apontou Colares.
— Certo. O que vamos fazer se forem os traficantes.
— No momento, só aguardar. O Delegado vai dar a ordem, mas
precisamos confirmar se realmente são os traficantes que esperamos.
Resolveram aguardar.
Perceberam que alguns veículos chegaram, e mantiveram os faróis
acesos, diretamente para o mar. Como se fosse um aviso para quem estivesse
chegando.
Parecia mesmo que seriam os traficantes.
Os policiais se posicionaram, mas constataram com algum
receio que havia bem mais pessoas do que achavam anteriormente. Dezesseis policiais
talvez não fossem o suficiente. Mesmo assim a missão seria cumprida à risca.
Esperaram desembarcar a mercadoria.
Os homens começaram a tirar algumas caixas dos carros. As caixas
aparentavam ser do tipo que carregam animais, pois tinham buracos por todos os
lados.
Alfredo Olhou para Colares, que devolveu o mesmo olhar interrogativo.
Será que eram drogas?
Quando o barco ancorou, constataram que era realmente o
MEDALHÃO II, e isso foi o sinal para que a operação começasse. No momento em
que começaram a embarcar a mercadoria, o Delegado Borges acionou via rádio toda
a equipe e, de armas em punho, seguiram como planejado, em leque e cercaram
todos os homens que estavam no cais.
No mesmo instante Paulo, do barco, juntamente com seus
colegas, acionaram uma lanterna superpotente e iluminaram todo o local.
Foi nesse momento que Borges deu a ordem:
— PARADOS... É A
POLÍCIA! DEIXEM TUDO NO CHÃO E LEVANTEM AS MÃOS!
E os policiais surgiram do nada na frente dos meliantes.
O problema era que eles também estavam preparados para essa
abordagem. Dos caminhões, surgiram outros homens, todos armados e começaram a
atirar.
A coisa toda virara um inferno. Tiro para todos os lados e
cada um tentou se defender como dava. Inclusive Alfredo.
Naquele momento ele só pensava em Vera e Carlinhos. Tentou se
proteger o máximo que pode. Havia alguns contêineres e ele foi para atrás de
um, de onde atirava nos traficantes. De onde estava ele viu bem os bandidos nos
caminhões e mirou neles. Conseguiu acertar dois deles, antes que um terceiro
começasse a usar Alfredo como alvo.
Se o bandido fosse atingido estariam mais protegidos, pois
ele é quem dava proteção aos demais, já que usava uma arma potente.
Quando ele tentou se esquivar e partir para um outro contêiner,
viu Colares cair, atingido por uma bala. Do jeito que estava foi até onde
estava caído seu parceiro e viu que ele estava sangrando no abdômen. O colete à
prova de balas não estava adiantando.
Dali onde estava gritou para seus companheiros, via rádio:
— Pessoal, eles estão
usando balas perfurantes, protejam-se. Atingiram o Colares. Ele precisa de
médico.
E quando ele se virou para tentar atingir o último homem no
caminhão, foi atingido no peito e lançado para trás.
A vista escureceu e tudo o que viu foi cenas embaçadas. Tudo estava
em câmera lenta. E aos poucos apagou.
Ao mesmo tempo, na cada de Alfredo, Vera deu um grito e
soltou o prato que estava carregando no chão.
Carlinhos ficou assustado e perguntou à mãe o que estava
acontecendo.
— Meu filho, vamos ajoelhar e rezar. Seu pai está precisando
de nossa oração.
E assim fizeram. Se ajoelharam e rezaram com todas as forças
que tinham no coração.
...
Alfredo acordou no hospital. Vera estava do seu lado e o
Delegado Borges conversava com o médico.
— O que foi que aconteceu? — Perguntou, ainda meio sonolento,
meio anestesiado. Sentia alguma dor, mas suportável.
— Meu amor, foi um verdadeiro milagre.
— Eu pensei que ia morrer. Me lembro de ter sido atingido e
depois não lembro mais o que aconteceu.
— Isso eu posso dizer Alfredo. — Disse o delegado. — Quando você
passou rádio dizendo que o Colares havia sido atingido, logo em seguida
atingiram você também. Naquele momento, vi que não podíamos mais perder tempo e
então, atirei e atingi o último homem que estava no caminhão. Ele é quem dava
cobertura aos demais. Quando ele caiu, e com a ajuda que veio de Paulo no barco
do DENARC, nós conseguimos controlar a situação e prender o restante da
quadrilha.
— E como está o Colares? Ele não... morreu... né? — Indagou
meio hesitante.
— Não. Assim como você, ele foi socorrido imediatamente e
está em um quarto próximo daqui. Está em observação. O quadro dele é mais
delicado, mas não corre risco de morrer.
— E eu fui atingido aonde?
— Bom, eu não acredito muito em milagres, mas não posso
deixar de concordar com sua esposa.
— Como assim? Fui ou não atingido? Eles estavam usando balas
perfurantes.
— Foi atingido sim. Mas milagrosamente a bala não atingiu o
seu corpo.
Pasmo, Alfredo ficou sabendo do que ocorrera com ele. A bala
realmente o atingiu. E também perfurou o colete à prova de balas. No entanto,
milagrosamente, ela parou em uma medalhinha que ele sempre usava. Com a imagem
de Jesus Cristo. A bala perfurou o colete, mas não teve força suficiente para
penetrar a medalhinha e atingir o seu peito.
Alfredo só acreditou quando lhe mostraram a medalhinha
amassada com a bala ainda presa.
Quando olhou para seu peito, não havia marca alguma. O que o
fez desmaiar foi a potência da bala. E ficou desacordado por ter batido a
cabeça no contêiner.
Começou a chorar no mesmo instante e a fé que sempre o
acompanhava, agora era mais forte do que nunca.
Borges ainda completou dizendo que a carga era realmente de
drogas, mas não como pensaram. Os traficantes estavam usando animais, cães e
gatos com pacotinhos de drogas em seus estômagos e o barco seria apenas de
transporte de animais, dificilmente seriam parados e mesmo que fosse, ninguém iria
prendê-los por esse motivo. O transporte seria para um lar de animais na
Europa. Tudo legalizado. Menos a droga que estava escondida nos estômagos dos
pobres animais que seriam provavelmente sacrificados ao chegarem em seu
destino.
Mais um trabalho feito.
O problema era driblar a imprensa e o povo dos direitos
humanos, pois na troca de tiros morreram oito traficantes. Nosso país ainda
precisa crescer como um grande país, e precisa começar isso com suas leis.
FIM
ANTONIO HENRIQUE FERNANDES
Autor e Capitão deste Navio Errante.
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