sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A MISSÃO

A MISSÃO


— Mãe, onde está o papai? — Perguntou a criança.

— Seu pai está trabalhando, meu filho.

— Mas, mamãe, é véspera de Natal!

— Eu sei. Mas seu pai é um policial e tem um dever. Infelizmente foi chamado de última hora para um serviço que apareceu. Bandido nesse país não tem horário para trabalhar. Agora vamos nos preparar e rezar para que seu pai consiga chegar a tempo para a ceia de natal.

— Está bem. — Aceitou o menino.

Vera estava preocupada.  Seu marido Alfredo era policial há pouco tempo e trabalhava há alguns meses no DENARC, a Delegacia que trabalha contra o tráfico de entorpecente. Claro que já tinha sido chamado para trabalhar fora de hora, mas no Natal era a primeira vez e ainda mais quando tinham recebido uma denúncia de que iria ter um carregamento grande de drogas no cais. Segundo Alfredo, um dos informantes da delegacia havia passado essa informação algumas horas antes e era algo que estavam aguardando com muita ansiedade. Estavam trabalhando há muito tempo contra uma quadrilha que traficava para o exterior e que a quantidade de drogas normalmente era muito grande.

E foi isso que deixou Vera apreensiva, pois se era um grande carregamento, provavelmente haveria bastante criminoso e nenhum estaria disposto a se entregar facilmente para a Polícia.

No início da noite, o Delegado Borges chamou seus policiais e preparam a ofensiva, conforme os dados levantados pelo informante.

— Muito bem, pessoal. É o seguinte. O embarque da droga deve acontecer uma meia hora antes da meia-noite. Escolheram essa hora porque é muito próxima da ceia de natal e todos estarão em suas casas com as respectivas famílias.

— Esperto. — Afirmou um dos policiais.

— Exatamente. Mas o que eles não sabem é que nós seremos parte da ceia deles. Paulo, você leva sua equipe pela parte do mar. O barco do DENARC está à sua espera totalmente abastecido. Não esqueça de levar o armamento pesado. Vamos precisar.
— Ok, Delegado.

Paulo e mais cinco policiais começaram a se ajeitar, pegar os coletes à prova de bala e verificaram as suas pistolas. Nada poderia falhar, principalmente as armas. Assim que olharam tudo, pegaram as escopetas e fuzis e foram até o barco da delegacia. Já sabiam onde se posicionar e ficariam aguardando apenas as ordens do delegado.

— Quanto aos demais, vamos fazer uma varredura do local e seguir em leque, em duplas. O objetivo é cercar e não dar qualquer chance para os vagabundos.

— Senhor, a informação está toda correta? Alguém já verificou o local antes? — Perguntou Alfredo.

— Sim, Alfredo. Nosso informante passou lá horas antes e nos deu o nome do barco que será embarcado com a droga. Será o Medalhão II. Estará no píer 3 do cais Santa Marta.

Alfredo acenou com a cabeça, afirmativamente.

Em seguida foi inspecionar a sua pistola .40. Estava tudo em ordem e vestiu o colete. Naquele momento tudo o que ele pensava, além da missão, é claro, era em sua esposa Vera e no seu filho de oito anos, o Carlinhos.

— Vai ser mamão com açúcar. — Riu Colares, o seu parceiro da missão.

Alfredo também riu.

Colares já era policial antigo e tinha muita experiência nesse tipo de abordagem. Inclusive já tinha recebido algumas medalhas por ser sempre muito corajoso e ativo. Era sempre um dos primeiros e não dava mole para bandidos.

Eram uma equipe de quinze policiais mais o delegado, totalizando oito duplas. Pelo que o informante passara, seria suficiente. Era início da noite e ainda teriam que ficar de campana no local para dar o flagrante na droga.

Tudo certo, tudo ajeitado. Armas inspecionadas. Pegaram as viaturas descaracterizadas e partiram para o cais.

Cerca de 45 minutos depois chegaram ao píer. Esconderam os carros o máximo que puderam e ficaram esperando. Tudo estava tranquilo.

Demóstenes, um dos policiais (que menos parecia policial) e Fabiana, uma das poucas agentes da delegacia, saíram da viatura a mando do delegado e deram uma pequena volta pelo píer. Disfarçadamente, parecendo um casal de namorados, tinham a missão de localizar o barco e confirmar o local onde estaria ancorado.

Trinta minutos depois ambos retornaram e deram a notícia.

— Chefe, o barco não está ancorado. — Disse Demóstenes.

— Como assim, não está ancorado? — Alarmou-se Borges.

— Demos uma volta pelo cais e não há nenhum barco com o nome MEDALHÃO II. Simples assim.

— Alguma coisa está errada.

Borges ficou pensativo e em silêncio amaldiçoou o informante. Se alguém soube da operação é bem capaz que mudaram o local. Ainda tinham uma vantagem. Paulo estava no barco e saberia dali se algum barco se aproximasse. Se o embarque fosse feito realmente naquela noite, e nada dizia o contrário, justamente por ser noite de natal, ainda teriam chance de pegar os traficantes.

O Delegado Borges detestava traficantes. Sempre que tinha uma chance de prendê-los ele o fazia. Aprenderam desde cedo que todos os crimes agiam em volta do tráfico, do mesmo jeito como os planetas orbitam o sol.

Os viciados, aviões e peixes menores, para continuar com sua dependência, praticavam vários outros delitos: furtos, roubos, agressões, homicídio e até mesmo Latrocínio (roubo seguido de morte) que é a pena maior de nosso Código Penal, além de ser crime hediondo. Era da teoria que se extirpasse o tráfico, os demais crimes diminuiriam, voltariam a ser como antigamente... inclusive seriam mais controláveis.

Infelizmente o tráfico existia, e era muito grande. Não seria fácil acabar com esse crime e com os que orbitam à sua volta.

A legislação brasileira também não ajudava. Viciados não eram presos mais, só pagavam penas alternativas, mas ainda assim com seu vício financiavam o crime. Os traficantes cada dia estavam mais numerosos e mais poderosos.

Fora que a sociedade via a Polícia, seja Civil ou Militar, com olhos diferentes. Não tinham mais respeito. E normalmente culpavam a polícia por alguma coisa malfeita, invertendo os valores de antigamente.

Esse também era um dos motivos que deixava Borges mais furioso. Ser taxado pela sociedade como pária. E não como um agente da Lei e mantenedor da Justiça.

Pouco depois das dez, Paulo, do barco avisou a Borges que haviam avistado algumas luzes. Era um barco se aproximando, mas diferente do que sabiam, ele não estava se dirigindo para o cais Santa Marta. O destino era outro.

Imediatamente o delegado determino que saíssem dos carros e partissem para o novo cais. As coisas estavam mudando e precisavam ser rápidos para que não perdessem a operação. E ainda tinham que torcer para que o barco fosse o mesmo da informação. Paulo estava às escuras e não pode visualizar o nome do barco escrito em sua lateral.


Com as novas ordens, os policiais partiram então para o outro cais.
...

fim da primeira parte


ANTONIO HENRIQUE FERNANDES 
Autor e Capitão deste Navio Errante.

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