Capítulo quatorze
Duryn
Pela manhã os nobres do reino e das casas participaram de uma caçada ao
porco selvagem da Floresta Escura, uma façanha que poucos conseguiram. Primeiro
soltaram os Caçadores, os animais que seriam usados para farejar e localizar os
porcos selvagens. Esses animais eram perfeitos para isso. Quando conseguiam
localizar sua presa não largavam mais, e ficavam segurando até chegar o
verdadeiro caçador que tratava de eliminar o animal, e neste caso seria o
grande Porco Selvagem da Floresta Escura.
A Floresta Escura era alvo de muitas histórias entre os camponeses. Era
uma floresta densa que rodeava o Castelo de Duryn. E justamente por ser densa,
praticamente não entrava a luz do sol e quem se aventurava em seu interior
poderia encontrar muitos perigos, não só um porco selvagem. Era pouco
freqüentada e os viajantes preferiam dar uma volta pela floresta, perdendo um
bom tempo assim, do que enfrentá-la.
- Veja Lorde Travis, os nossos animais já estão em alguma perseguição.
Veja como estão atiçados. – disse o Rei Geldar para o seu amigo lorde,
apontando para os Caçadores correndo loucamente.
- Verdade, Senhor. Acredito que logo teremos um em nossas mãos. –
afirmou positivamente o lorde.
Juntamente com o Rei Geldar e Lorde Travis estavam os demais lordes,
Durant, Petry e Arduyns, e dos filhos apenas Serge e Andor que tinham um grande
manejo com cavalos e espadas. E ambos estavam muito excitados, pois era a
primeira vez que faziam uma caçada real, na presença do Rei e queriam fazer
bonito. Kaius, filho do Governador de Karks também fazia parte da comitiva, mas
era mais taciturno e mal falava com os demais.
Alex e Santo não faziam parte do grupo que estava caçando o porco. Alex
estava em sua missão de proteger a Princesa Alexia, que naquele momento estava
olhando para um grupo de malabaristas ótimos que faziam muitas façanhas
utilizando qualquer tipo de material para entreter as pessoas. Ela estava
adorando e aplaudia muito quando eles faziam algum malabarismo considerando
impossível.
Nínive estava ao lado e o tempo todo ficava puxando a capa de Alex. Até
que ele anuiu e se abaixou, ficando quase do mesmo tamanho da menina. Ele era
bem alto e mesmo agachado ainda ficava mais alto que ela.
- Então? Está se divertindo Princesa? – perguntou ele.
- Muito, fico imaginando quando for a minha hora e terei tudo isso para
mim. - Ela dizia aplaudindo e fazendo vivas para os artistas, igual sua irmã. –
Alexia parece que está se divertindo agora também. Parece que esqueceu que vai
ter que escolher um marido.
E Alex imediatamente fechou a cara quando ouviu isso. Ele também não
queria lembrar-se desse fato. Mas logo fez graça com a pequena princesa.
- Talvez a princesa mude de idéia quando tiver a mesma idade. E já
pensou se forem tudo feio e barrigudo? – riu.
- Nããããão!! De jeito nenhum. – disse fazendo careta. – Espero que sejam
todos como você Alex.
- Fico lisonjeado, pequenina. – e se levantou e ficou olhando para seu
amor, rindo e se divertindo. Afinal era sua festa de aniversário e queria
aproveitar tudo o que podia.
Alex olhou para uma turma distante e viu seu pai que iria comandar as
lutas justas, estava verificando cada espada para ver se não tinham fio e nem
ponta. Seria divertido. E só não sabia se seu pai iria participar. Era um
duelista de primeira e conheceu pouquíssimos soldados que poderiam vencê-lo em
um duelo de espadas. À tarde seriam os duelos. Logo depois do grande almoço,
que esperavam ter caso conseguissem caçar um porco selvagem. Era claro que
teriam mais coisas à mesa, mas era tradição o prato principal ser o animal
caçado.
Alex adorava caçar e já tinha se aventurado algumas vezes dentro da
Floresta Escura, e ficou bem chateado por não ter participado desta, que era
especial. Mas tudo bem, ao menos estava próximo de sua amada. Mesmo que ninguém
nunca soubesse.
- Como você está? – perguntou ele à Princesa.
- Feliz. Ontem eu estava apreensiva, quase não aproveitei o baile, mas
hoje tudo é diferente, estou junto ao povo e me divertindo. – e era verdade.
Seu sorriso amplo não deixava qualquer dúvida.
E ali ela continuou a passear pelo povo, cumprimentando, parando para
conversar e aplaudindo os artistas mambembes que se apresentavam. De vez em
quando provava de alguma iguaria feita pelas camponesas e Alexia adorava doce.
E esses eram os melhores. Alex sempre sendo sua sombra e Nínive seguindo a
irmã.
Na Floresta Escura os animais caçadores começaram a urrar e grunhir mais
altos; haviam encontrado uma presa. Serge foi o primeiro a chegar ao local e
coube a ele lançar a primeira flecha, que acertou em cheio a cabeça do animal,
que caiu ao solo, completamente inerte.
Logo em seguida chegaram os demais e a eles só restavam agora dar os
parabéns a Serge e levar o que seria o prato principal para a cozinha do
castelo.
- Parabéns meu jovem, o animal é um belo espécime, enorme e vai agradar
quanto estiver na mesa do almoço. – parabenizou o rei, dando tapinhas nas
costas do rapaz, que evidentemente estava muito feliz.
O animal era realmente grande e foi preciso um monte de gente para fazer
uma padiola enorme e assim colocá-lo em cima para poder carregar até o castelo.
E foram necessários dois cavalos para puxar a padiola. A comitiva seguia lenta,
devido ao tamanho do animal e quando chegaram ao castelo todos já estavam
sabendo da façanha de Serge que ficou vermelho com tanta adulação. O Rei, que
havia ajudado a colocar o porco na padiola estava sujo e subiu para seus
aposentos para um banho e logo retornaria para o almoço à grande mesa posta do
lado de fora.
Serge só exigiu que cortassem a cabeça do animal e empalhassem. Seria o
seu troféu e lembrança desse dia feliz. Ao descer do cavalo foi cumprimentado
por dois sujeitos, um parecia um soldado, todo vestido de preto, com cabelos
oleosos e lisos presos por um rabo de cavalo e um outro que também tinha o
cabelo cumprido, no entanto, a sua roupa era clara e usava uma luva em uma das
mãos, fato que até tentão não tinha causado estranheza em ninguém. Ele poderia
ter alguma deformidade na mão, e por essa razão estaria usando uma luva, para
cobrir.
Alexia também se aproximou e parabenizou o campeão da caça.
- Parabéns, Serge, eu vi o animal que você abateu. Era bem grande.
- Obrigado Princesa. E foi com um tiro único. A flecha atingiu a testa
do porco que não teve reação alguma. – disse ele, se gabando de sua proeza.
- Agora vamos esperar se a carne dele é tão saborosa quanto muita gente
diz.
- Pode esperar que sim princesa. – afirmou com um sorriso Alex, que
estava logo atrás dela.
Serge não sorriu para o filho do capitão da guarda do castelo. Fez uma
mesura e se afastou, acompanhado do soldado de preto e do sujeito com a luva em
uma das mãos.
O almoço transcorreu tranquilamente, e a carne do porco foi unanimemente
aprovada. Estava realmente uma delícia e foi muito bem preparada pelas
cozinheiras reais, chefiadas por Nora, que ainda aprontaram muito mais comida
para um batalhão de pessoas. Mas, para à mesa, onde estavam o rei, a princesa,
e os nobres com seus filhos, foi apenas o melhor. Frios para a entrada e antes
do prato principal vieram alguns galetos e aves fritas, com ovos cozidos.
Estava tudo muito saboroso. E quando veio o prato principal, em uma imensa
tábua de madeira, todos os convivas bateram palmas. Depois do almoço, o rei
pessoalmente deu os parabéns à Nora e sua equipe.
Lorde Travis se aproximou do Rei Geldar e pediu uma audiência com ele em
seu escritório.
- Tenho um assunto muito importante e que já adiantei ontem que é grave.
– disse o lorde.
- Sim, você me falou meu amigo, e infelizmente durante a festa não
tivemos tempo para conversar. Mas vamos terminar o almoço e daqui a duas horas
estarei em meu escritório. Teremos muito tempo para conversar, pois enquanto
isso todo mundo vai acompanhar os combates justos.
- Certo. – disse pegando a taça de vinho e fazendo um aceno para o Rei,
tomando o seu conteúdo em seguida.
Depois de um tempo para descanso, todos retornaram para o pátio do
Castelo, onde aconteceriam os combates justos, como o rei não estava presente,
a aniversariante o representou, pois ele tinha falado a ela que iria ter uma
conversa com o Lorde Travis e não queria ser interrompido. Meio a contragosto
ela aceitou, afinal, ela não gostava tanto assim de lutas, mesmo que fosse
apenas de forma esportiva.
- O que o seu pai disse? – Perguntou-lhe Alex.
- Que iria ter uma audiência com o Lorde Travis e que seria algo
importante e por isso não receberia mais ninguém e também não poderia estar
presente nos combates. Ao menos em seu início.
- Hum! O que será que é tão importante assim? – resmungou Alex,
colocando a mão direita no queixo.
- Querido. – sussurrou a princesa – não pense nisso, afinal você não
prefere estar aqui comigo? Ou prefere a companhia de meu pai? – perguntou
fazendo uma cara de quem estava sendo preterida e rindo ao mesmo tempo.
- Ah, com certeza prefiro estar aqui. Então vamos que vai já começar, os
dois primeiros combatentes estão à postos.
Naquele instante Serge e um soldado da guarda real estavam perfilados
frente à frente para o seu primeiro combate.
O sistema de emparceiramento era fácil. Um simples sorteio definia os
contendores. E o primeiro combate foi definido com Serge e um dos melhores
soldados da Guarda do Rei. Ambos verificaram os seus floretes (que é uma espada
mais leve e fina), para confirmar se não tinha fio. Após, voltaram-se um para o
outro e após cumprimentar a princesa se cumprimentaram e iniciaram o duelo. A
regra também era simples. Aquele que conseguisse um golpe que fosse considerado
mortal seria o vencedor. Os juízes estavam de olho em ambos os competidores.
Serge era rápido, mas o soldado não ficava atrás. Depois de um princípio
em que se estudaram o soldado tomou a primeira atitude e em um golpe
despretensioso conseguiu atingir o braço esquerdo de Serge que reclamou, mas
isso não afetava sua mobilidade. A espada estava em sua mão direita. O golpe
pareceu ter acordado Serge que desferiu uma série de golpes no soldado, que
para se defender teve que abrir a guarda e nesse momento a espada de Serge foi
parar no peito do soldado. A luta havia terminado, Serge foi considerando o
vencedor.
- Muito bem, Serge. – parabenizou a Princesa Alexia. – Agora vá ver o
seu braço, está sangrando, precisa de um tratamento.
- Foi só um acidente. Não deveria ter acontecido, mas aconteceu. Eu
estava meio fora da luta e não vi o golpe. Senão teria evitado. – disse Serge.
Quando disse isso o médico do castelo se apresentou e logo remediou o
ferimento. Serge viu que estava tudo bem e disse que ia ao seu quarto para
trocar de camisa, não iria continuar com aquela suja de sangue. Antes de sair
deu uma olhada para o soldado de preto que o acompanhava desejando sorte na sua
luta.
Minutos depois, a caminho de seu quarto, encontrou-se por acaso com o
Rei Geldar, que estava se dirigindo para o escritório, onde teria a audiência
com o Lorde Travis.
- Meu jovem, vejo que está sangrando. Como foi a luta? – perguntou-lhe.
- Foi um pequeno acidente, Alteza, mas já está remediado e vou ali no
meu quarto apenas trocar de Roupa. Ah, a propósito, eu venci.
- Meus parabéns. Então vá logo trocar sua camisa e tem que estar
preparado para a próximo contenda. – disse o rei, e estendeu a mão no ombro do
rapaz.
- Obrigado senhor. – Disse Serge, que abaixou a cabeça e em seguida deu
dois tapinhas não mão do Rei, que afinal, era seu parente.
Serge seguiu para seu quarto e o rei para o escritório, onde pretendia
conversar com o Lorde Travis.
Ao chegar ao escritório o Rei Geldar já encontrou com o lorde na porta,
lhe aguardando. Após os cumprimentos, o rei o convidou para entrar e se
acomodaram em duas poltronas, ficando um de frente para o outro. Lorde Travis
começou a falar.
- Meu amigo, não tinha tido oportunidade, mas algo muito grave aconteceu
no meu castelo.
- Quão grave? – perguntou alarmado o rei.
- A pior possível. Uma certa estatueta de barro, que ninguém daria
qualquer valor a ela foi surrupiada da sala de troféus.
- Aquela estatueta? – assombrou-se. – Não é possível. Tem certeza do que
está me dizendo?
- Absoluta. Não levaram mais nada. Apenas a estatueta. E ambos sabemos o
que escondia aquela estátua.
Nesse momento, meio que sem querer o rei olhou para sua mão, onde tinha
um anel que era a marca de sua casa, já que não tinham mais o cetro.
- Não é possível. Não seria apenas coincidência? – disse o rei, ainda em
dúvida.
- Eu acho muito difícil. Um soldado foi morto. Ninguém é morto apenas
por uma estatueta de barro.
- E tem notícias de alguma outra, se foram localizadas?
- Até agora não. Mas achei que deveria avisá-lo. – disse apreensivo o
lorde.
Geldar se levantou, colocou a mão no queixo e ficou dando voltas pelo
escritório. Seu semblante era nebuloso. De repente começou a sentir uma falta
de ar e se apoio na poltrona onde estava sentado. Os joelhos falharam e ele se
sentou na poltrona.
- Geldar?!! O que está acontecendo? Você está bem? – desesperou-se o
lorde.
- Não sei. De repente o mundo passou a girar, ajude-me com a roupa. Não
estou conseguindo respirar direito.
≈
Os combates foram se sucedendo em várias áreas, pois eram muitos os
adversários e assim não duraria muito tempo até ter os finalistas.
Em um dos combates, depois do sorteio, foram colocados frente à frente
Santo e o homem de preto que acompanhava Serge. Santo não teve trabalho em seus
combates até aquele momento e sabia que o seu adversário seria duro, já tendo o
visto em suas lutas. Era mais jovem, tinha técnica e muita habilidade. E era
agressivo. Mas para um homem que tinha a experiência ao lado, como Santo, não
seria problema em enfrentar um combatente agressivo.
- Pai, tem certeza que quer continuar a lutar? O outro é mais jovem, e o
senhor não é mais nenhum menino. – perguntou Alex a Santo, olhando para o homem
de preto que tinha os olhos frios como aço. – Não estou com um bom
pressentimento.
- Deixa de coisa, filho. Você sabe muito bem que sou apto a enfrentar
qualquer espadachim e para me vencer tem que ser muito melhor que eu. E outra.
É apenas um esporte. O máximo que vai acontecer é ele me vencer no duelo –
apaziguou Santo, segurando o ombro de seu filho.
- Então boa sorte, meu pai. Boa luta. – disse, ainda olhando para o
oponente de seu pai. Alex preferia mil vezes estar ali no lugar de Santo. Mas o
fato de a luta não ser mortal o tranqüilizou.
Ambos cumprimentaram a princesa e se cumprimentaram. Então a luta
começou.
≈
Desesperadamente, Lorde Travis abriu a camisa de Geldar para que este
respirasse melhor, no entanto, antes que fizesse qualquer outro tipo de ajuda
percebeu que o rei não estava mais respirando. Saiu como um louco da sala,
esbarrando em Serge que vinha do seu quarto.
- O que foi que aconteceu? – perguntou Serge, assustado.
- O Rei. O Rei está passando mal. – respondeu rapidamente. – Fique aqui
jovem, enquanto vou chamar o médico.
- Certo. – disse Serge, na porta, olhando para o interior e vendo o Rei
Geldar na poltrona, desacordado.
E Lorde Travis saiu em desabalada carreira, à procura do médico, que a
essa altura estava nos combates justos, no pátio do castelo.
≈
Santo iniciou o combate estudando o adversário, mas este tinha muita
habilidade e fazia várias estocadas na direção de Santo e dava pouco espaço
para que sofresse um contra-ataque. Toda vez que Santo iniciava um ataque
parecia que o homem já conhecia o movimento e tirava, contra-atacando e fazendo
com que Santo se esforçasse mais ainda.
Mas, a experiência de Santo começou a fazer alguma diferença, pois fez
que com que o seu adversário pensasse que estivesse fraquejando e começou a
abrir sua guarda de propósito, até que uma oportunidade surgiu e quando o homem
de preto atacou, com um sorriso cínico no rosto, achando que já tinha vencido a
luta, Santo simplesmente se desvencilhou facilmente e a ponta de sua espada foi
parar no peito do adversário, que abriu os olhos de surpresa, parou de sorrir e
viu que tinha perdido. Alex que não perdeu nenhum lance da luta deu um sorriso
triunfante. Seu pai ainda era um campeão.
Aquele homem nunca tinha perdido uma luta antes e ficou sem saber o que
fazer. Olhou para Santo e para Alex, que vinha parabenizar o pai e simplesmente
perdeu a razão. Levantou a espada e foi em direção a Santo.
Alexia, com total assombro viu a ação e gritou para Santo, fazendo com
que Alex imediatamente colocasse a mão em sua espada. Mas o aviso veio tarde e
quando Santo se virou somente viu uma coisa. Como se estivesse em câmera lenta
olhou para baixo e viu que havia uma espada trespassando seu peito.
- Nããããããããoooooo!!! - Alex gritou e pegou o seu pai que estava caindo
no chão. Segurou-o antes que tocasse o solo. Santo estava com sangue saindo por
um filete na boca e pelo peito. Somente olhou para o seu filho e fechou os
olhos, sem nada dizer.
Alex, desesperado, com lágrimas caindo, deitou seu pai e pegou a espada.
- Seu assassino, pode esperar que sua vida agora está por poucos
minutos. Faça suas preces aos deuses ou a quem quiser, daqui só sai morto. –
bradou Alex, apontando sua espada para o homem de preto, que estranhamente
aparentava muita calma.
Alexia estava horrorizada e com as mãos na sua boca. Vendo o seu amado,
consternado pela morte do pai apontar uma espada para outro homem e prestes a
matá-lo.
Mas, quando Alex ia fazer o primeiro ataque apareceu como um doido o
Lorde Travis, gritando pelo médico e todas as atenções agora foram em sua
direção.
Quando Alex voltou-se para encarar novamente o homem de preto, este
tinha sumido. Com aquela confusão toda em torno do lorde gritando por um médico
ele o perdera de vista, e por mais que tentasse não conseguiu mais localizar o
assassino de se pai. Voltou-se então para onde estava o corpo estendido de
Santo e o pegou em seus braços, levando-o para o seu quarto, onde seria
preparado para o funeral de um soldado.
O médico que estava na luta e constatou que nada mais havia a ser feito
por Santo perguntou o que estava acontecendo para o lorde.
- O Rei. Sua Alteza está passando mal e precisa de socorro imediato.
- Meu pai? – novamente assustou-se Alexia e sem esperar o médico foi
correndo até o escritório do rei. Chegando lá encontrou-se com Serge à porta.
- O que foi que aconteceu? – perguntou desesperada.
- Eu não sei. O lorde saiu daqui correndo e pediu para eu ficar na porta
cuidando do rei e quando observei ele estava sentado e desacordado, mas não saí
daqui. Até que chegue o médico, e, ora, lá está ele, vamos abrir caminho. – e
afastou delicadamente sua prima da porta e deixou o médico entrar.
O médico entrou imediatamente no cômodo, deitou o rei no solo e colocou
o ouvido em seu peito e não fez uma cara muito animada. Tentou sentir o pulso
dele e novamente fez uma negativa com o rosto. Tentou de várias vezes sentir
algum tipo de respiração de Geldar, mas no fim teve que se render. O Rei Geldar
estava morto.
Alexia ao saber daquela notícia desfaleceu e caiu nos braços de Alex que
tinha deixado seu pai com seus companheiros da guarda e agora estava ao seu
lado, amparando-a. Nínive ainda não sabia, pois estava brincando com outras
crianças em outra parte do castelo.
Ao ser indagado sobre o que aconteceu Lorde Travis disse que estava
dando uma notícia ruim sobre um fato que somente eles sabiam e que talvez isso,
aliado ao fato de que era um período de festa em sua vida, por conta do
aniversário da princesa Alexia, o coração pode não ter agüentado. E quanto à
notícia que dera ao rei, agora seria repassada à Princesa, alçada Rainha,
Alexia, pois seria de suma importância que ela soubesse.
Fora um dia negro para os dois jovens. Ambos perderam seus pais, e agora
estavam sozinhos. E só tinham um ao outro. E Nínive. E Alex nem ao menos teve
tempo de vingar seu pai. O assassino escapou.
O povo do lado de fora havia visto apenas a comoção com relação ao
capitão da Guarda Real e ainda não sabia que o seu rei estava morto. Cabia a
Alexia, agora, soberana de Duryn, dar a notícia pesarosa.
Quando todos os cuidados com relação ao corpo do rei foram tomados, ela
se encaminhou para o parlatório, local onde o rei costumava saudar o povo,
juntamente com a família, e dar a triste notícia.
O arauto real anunciou ao povo que seria dado um anúncio. E Alexia se
aproximou. O povo estranhou porque normalmente era o rei que se apresentava na
sacada do castelo.
- Amado povo. – iniciou Alexia. – É com muita tristeza, ainda chorando,
que dou a notícia que o meu pai, o seu rei, está morto.
A comoção do povo foi enorme, ninguém acreditava, afinal ele não era tão
velho assim. O que poderia ter acontecido com o rei? Era o que todos se
perguntavam.
Naquele momento começaram a saudar Alexia como Rainha de Duryn, o que de
fato só aconteceria quando ocorresse a cerimônia de coroação.
- Os funerais começarão amanha e todos poderão chegar perto do rei e o
saudá-lo. – disse, finalizando.
Alexia estava duplamente arrasada, pois ao seu lado estava o novo
capitão da guarda, seu amado Alex, que, do mesmo jeito que ela, perdera o pai,
e de forma mais trágica ainda. Seu primeiro ato, é claro, foi nomear Alex o
novo Capitão da Guarda Real, o que seria lógico e era o que todos esperavam desde
sempre. Nínive agora sabia do que tinha acontecido com seu pai e estava
abraçada a Alexia, chorando muito.
Somente uma coisa não foi notada, evidentemente por conta de toda a
situação. Ninguém percebeu que o anel do rei não estava em sua mão.
-x-x-
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