Capítulo treze
Tulan
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Eu ainda estava dormindo quando fui acordado por Demetrides. Ele parecia
com pressa, pedindo urgentemente que eu fosse para a sua cabana. Vesti-me o
mais rápido que pude e fui.
Chegando lá ele estava esperando na porta e pelo que vi havia acabado de
chegar de onde quer que tenha ido, pois ainda estava com sua bolsa a tiracolo
no ombro.
- Entre, meu jovem. O que tenho a lhe dizer tem certa urgência – e
convidou-me a entrar.
Entrei e me sentei em uma das cadeiras da cozinha, enquanto Demetrides colocava
a bolsa em outra cadeira.
- Layo, o que eu temia está realmente acontecendo. Quando uma gema foi
recuperada eu já desconfiava, mas agora já são duas.
- Duas?! – perguntei bem curioso.
- Sim. E a segunda gema que foi localizada estava em um local dos mais
bem guardados. Ninguém saberia, a não ser que fosse direcionado exatamente para
o lugar secreto, que obviamente já não é mais secreto. O que eu não consigo
entender é como alguém sabia onde procurar. Pouquíssimas pessoas sabiam e eu
praticamente sou a última delas. – respondeu ele, levantando uma sobrancelha,
como se tivesse em dúvida de alguma coisa. Acho que ele sabia mais do que estava
falando para mim. Mesmo assim fiquei quieto, e era o que eu precisava fazer,
por ora.
- Mas, Mestre, e onde estão as outras? – indaguei, cada vez mais
intrigado com tudo aquilo.
- Ah, meu querido aprendiz, melhor não saber, até pela sua própria
segurança. No entanto, tem uma coisa que precisa fazer.
- O que?
- Você tem que partir imediatamente para Duryn, lá estará seguro e o Rei
Geldar lhe dará guarda. E assim também poderá auxiliá-lo com o que puder
ajudar.
- Mestre, eu ainda não estou pronto.
- Acho que quem decide se está pronto ou não sou eu, não acha? E eu digo
que está pronto. O que eu podia ensinar eu já fiz. E espero que possa usar tudo
com sabedoria. Lembre-se sempre que há um poder superior e que tudo o que
fazemos tem suas conseqüências. Seja bom e poderá colher frutos doces, e se
fizer algo de ruim colherá frutos amargos.
- E Cibele? Eu não posso deixar a mulher da minha vida aqui. Posso
levá-la comigo?
- Se assim ela quiser. – disse solenemente.
- Quanto tempo eu tenho para me aprontar e Cibele se aprontar? –
indaguei a meu mestre.
- Um dia... Não mais do que isso. Quanto mais rápido melhor. E com você
na Corte de Duryn eu fico em liberdade para fazer o que eu preciso.
E assim corri para a casa de Cibele para explicar o que estava acontecendo.
A princípio ela ficou um pouco receosa, mas quando falei que iríamos
para Duryn logo se animou e conseguiu convencer seus pais de que iria comigo.
Como eu pensei, eles nem reclamaram, afinal estávamos indo para um castelo,
fazer parte da corte, o que mais eles poderiam querer de sua filha?
- Quanto tempo nós ficaremos lá, meu amor? – ela perguntou, fazendo uma
carinha de desconfiança para mim.
- Infelizmente esta é uma pergunta que não posso responder Cibele. Estou
indo a pedido de Demetrides. Acredito que seja por tempo indeterminado, ainda
mais se eu for efetivado como mago da corte, o que, acredito eu, é o plano de
meu mestre. – respondi, sendo o mais sincero possível.
Após as despedidas, fomos para a minha cabana, aos pés da montanha e
ficamos aguardando Demetrides. Até que uma dúvida me bateu. Certo, iríamos para
Duryn, mas como? Eu não fazia idéia de onde seria e o que usaríamos como
veículo. Sempre ouvi falar de Duryn, mas nunca falamos de sua localização. E
também não sei como seria a recepção na corte.
- Como será no castelo? Deve ser uma vida bem legal. – Cibele estava
sonhadora.
- Olha, nunca fui a um castelo, mas acredito que seja uma vida bem
interessante. Se você for da nobreza, é claro. – disse rindo.
- Ah, mas mesmo assim, uma vida no palácio é muito mais do que eu
poderia ter sonhado em toda a minha vida.
Nisso eu dava razão a ela. Nenhum de nós teria sonhado com uma vida em
um palácio qualquer. E eu só sabia de Duryn, não sabia dizer se havia mais
alguma corte, mais algum castelo. Não sabia sequer a dimensão daquele reino. E
agora estávamos de partida.
Ainda não tinha entendido a urgência de Demetrides e o porquê dessa
pressa em me apresentar para o Rei Geldar de Duryn. Será que era para me
proteger mesmo ou para proteger alguma coisa. Talvez algum conhecimento que me
passara e eu não tivesse entendido ainda a importância da coisa toda. Nessas
horas que eu mesmo me arrependia de ser tão imaturo e tão jovem. Eu aprendia
rápido com os ensinamentos de Demetrides, mas quando eram conhecimentos tinha certa
preguiça. Sei que com o tempo vou ter a mesma sabedoria do mestre, mas isso ia
demorar, é claro. Imagine só, um homem com mais de trezentos anos!!
Cibele estava indo comigo. Ela não tinha a menor idéia do que ia
encontrar, do que ia passar. E para ser sincero, nem eu. Como é que seríamos
recebidos pelo Rei? De bom grado? Provavelmente, afinal, deveria conhecer a
Demetrides.
Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas, mas deixei tudo para depois. Agora
tinha que me preocupar com a viagem, que até então eu nem sabia como seria.
Demetrides não demorou muito e nos encontrou na minha cabana.
- Então? Pegaram tudo? Layo, não esqueça o cajado. Será sempre sua arma
principal. Ele canaliza seu poder e tudo aquilo que aprendeu comigo. Você tem
poderes que nunca experimentou e eu sinto isso em você meu jovem. Nunca se
recrimine ou se subestime. Se duvidar será mais poderoso que eu.
- Eu acho isso impossível Mestre. – duvidei.
- Nunca duvide de sua capacidade, muito menos em momentos mais difíceis.
E pode ter certeza que passará por momentos assim. Tome esta carta. Ela é
endereçada ao Rei Geldar. Aqui explico tudo e ele lhe aceitará na corte e lhe
nomeará conselheiro Real.
- Conselheiro, mas... Mestre... Eu sou jovem. – respondi completamente
assustado, apavorado e aturdido.
- Bobagem. Eu não escreveria isso se soubesse que não tem essa
capacidade. O tempo provará que tenho razão. Se eu não tivesse que ir até outro
lugar eu iria com você, Layo. Eu mesmo me encarregaria de lhe apresentar ao
rei, mas vejo que o tempo urge e está cada vez mais escasso. Não posso mais
perder tempo. O inimigo, e agora vejo que é um inimigo poderoso, trabalha
rápido. Tenho que ser mais rápido que ele e tentar descobrir como ele sabe de
coisas que ninguém mais sabia.
- Mestre, isso tem a ver com as gemas da história que me contou? –
indaguei-lhe.
- Sim Layo. Totalmente. E, pior, está acontecendo novamente. Alguém está
tentando desencavar algo que aconteceu no passado e que eu considerava morto e
enterrado.
- Certo. E como eu e Cibele vamos para Duryn? – eu estava curioso quanto
a isso e Cibele que estava ao meu lado estava mais curiosa ainda. Afinal nem eu
e nem ela nunca tinha saído de Tulan. Quanto mais da Lua de Vultor.
- Não se preocupe, já tenho tudo acertado. Do outro lado da montanha, está
escondida uma nave, com um piloto que arrumei e ele os levará para Duryn. Já
está pago e não precisam se preocupar com nada, apenas em curtir a viagem e se
apresentarem ao rei quando chegarem. Você sempre me perguntou como era Duryn e
você só precisava olhar para o céu. Aquela bola brilhante lá em cima não é uma
lua, como esta. Lá é o planeta que conhecemos como Duryn. É lá que se encontra
todo o reino, de onde eu vim e que ainda pretendo voltar. Depois que eu
resolver tudo o que pretendo eu quero me encontrar com vocês no castelo.
Arrumei também quatro cavalos e duas mulas para que vocês possam chegar até o
outro lado. Vai demorar pelo menos mais um dia de viagem.
- Uau mestre. Você pensou em tudo. – eu estava realmente admirado.
Parecia que tinha pensado em tudo. Só restava mesmo eu e Cibele começarmos a
viagem e nos apresentar o mais rápido possível ao Rei Geldar, em Duryn. E só os
deuses sabiam como estávamos ansiosos.
Nos despedimos e montamos em nossos cavalos. Nas mulas estavam
provimentos para esta pequena viagem. E ainda fiquei preocupado e fiz uma
última pergunta a meu mestre.
- E quanto aos cavalos e mulas? O que será feito deles quando os
deixarmos antes de partir na nave?
- Estão comprados. A partir dali serão animais livres e poderão ficar no
pasto. Naquela parte onde pegarão a nave tem muita água e alimento para eles, e
enquanto isso não faltar, pode ter certeza que não irão sair dali. Agora podem
ir.
E assim deixamos Tulan. Com um pressentimento ruim de que esta seria a
última vez que a veríamos. E ao acenar para Demetrides, senti em meu coração
que esta seria a última vez que o veria também. Fui. Com o coração apertado.
Minha vida estava para mudar completamente. E eu não sabia o quanto. Nem sabia
o que me esperava em Duryn.
As primeiras horas foram tranquilas, mas depois o tempo deu uma mudada e
ventou muito. Nós paramos e montamos uma tenda, pois estava ficando quase
impossível andar com os animais naquele vento e na poeira que levantava. E
ficamos assim durante algumas horas. Até que começou a chover. Pelo visto a
nossa pequena jornada não seria tão tranquila assim.
- Meu amor, aconteça o que acontecer esteja sempre do meu lado. Eu não
quero te perder. – Cibele disse.
- Nunca vai me perder. E pode ter certeza que estarei sempre ao seu lado.
Nos bons e maus momentos. Espero que sejam mais momentos bons. – falei e fiquei
afagando os cabelos ruivos de Cibele, que eu adorava tanto. Ela tinha feito
duas tranças e agora caíam para frente. Seus olhos brilhavam. Eu sentia o amor
dela em seus olhos. E morreria por esse amor.
Após a chuva e o vento passar, retornamos ao nosso caminho. Chegamos à
metade do caminho já tarde da noite e montamos novamente a tenda e os animais
ficaram perto de uma relva, onde os deixamos amarrados. Diferente do dia, a noite
foi maravilhosa, apesar de quente. Não havia nuvens e o céu estava estrelado.
Fizemos planos de um dia conhecer algumas dessas estrelas juntos. Como? Isso eu
não sabia, mas quem disse que não podíamos sonhar?
Ao amanhecer, retornamos ao nosso caminho e sem tropeços chegamos ao
nosso destino. Realmente lá estava uma nave estacionada. Era a primeira vez que
via uma nave. Achei demais. E vi que era toda de metal. Aquilo saía do chão?
Cibele olhou e arregalou os olhos e fez a mesma pergunta que eu.
- Olá. Meu nome é Layo, está é minha noiva Cibele. Meu mestre Demetrides
disse que estaria aqui esperando por nós.
- Sim, meu nome é Torrence, e fui regiamente pago por essa viagem, então
meus amigos, sem mais demora, se tudo o que tiverem é o que está nos animais, o
embarque será imediato.
Pegamos a nossa bagagem, liberamos os animais que foram para um pequeno
lago com árvores e uma relva aparentemente apetitosa para elas e depois
entramos naquela estranha máquina que voava.
Sentamos-nos e preparamos para a viagem. E quando aquela nave subiu suavemente
foi um assombro, mas passado o susto inicial foi uma festa, pois de algumas
janelinhas conseguíamos ver o quanto estávamos nos distanciando do chão e da
Lua de Vultor.
Não demorou muito e já estávamos no espaço aberto e comentei com
Cibele que agora estávamos perto das estrelas que vimos na noite anterior. Ela
abriu um sorriso e me deu um beijo carinhoso.
À nossa frente um planeta se aproximava e se agigantava para nós. Era
nosso destino. Finalmente conheceríamos Duryn. Só não sabíamos o que iríamos
encontrar. Novamente o coração ficou apertado. Naquele momento eu parecia um
soldado prestes a entrar em uma guerra sangrenta... E nem ao menos tinha
escolhido um lado para brigar. Claro que eu lutaria pela honra, pela decência e
honestidade. Isso sempre ficou claro. Seguiria esses preceitos até o dia de
minha morte, que eu esperava fosse bem tardia.
-x-x-
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