quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O REINO DO CETRO - Capítulo Treze - Tulan

Capítulo treze

Tulan






Eu ainda estava dormindo quando fui acordado por Demetrides. Ele parecia com pressa, pedindo urgentemente que eu fosse para a sua cabana. Vesti-me o mais rápido que pude e fui.

Chegando lá ele estava esperando na porta e pelo que vi havia acabado de chegar de onde quer que tenha ido, pois ainda estava com sua bolsa a tiracolo no ombro.

- Entre, meu jovem. O que tenho a lhe dizer tem certa urgência – e convidou-me a entrar.

Entrei e me sentei em uma das cadeiras da cozinha, enquanto Demetrides colocava a bolsa em outra cadeira.

- Layo, o que eu temia está realmente acontecendo. Quando uma gema foi recuperada eu já desconfiava, mas agora já são duas.

- Duas?! – perguntei bem curioso.

- Sim. E a segunda gema que foi localizada estava em um local dos mais bem guardados. Ninguém saberia, a não ser que fosse direcionado exatamente para o lugar secreto, que obviamente já não é mais secreto. O que eu não consigo entender é como alguém sabia onde procurar. Pouquíssimas pessoas sabiam e eu praticamente sou a última delas. – respondeu ele, levantando uma sobrancelha, como se tivesse em dúvida de alguma coisa. Acho que ele sabia mais do que estava falando para mim. Mesmo assim fiquei quieto, e era o que eu precisava fazer, por ora.

- Mas, Mestre, e onde estão as outras? – indaguei, cada vez mais intrigado com tudo aquilo.

- Ah, meu querido aprendiz, melhor não saber, até pela sua própria segurança. No entanto, tem uma coisa que precisa fazer.

- O que?

- Você tem que partir imediatamente para Duryn, lá estará seguro e o Rei Geldar lhe dará guarda. E assim também poderá auxiliá-lo com o que puder ajudar.

- Mestre, eu ainda não estou pronto.

- Acho que quem decide se está pronto ou não sou eu, não acha? E eu digo que está pronto. O que eu podia ensinar eu já fiz. E espero que possa usar tudo com sabedoria. Lembre-se sempre que há um poder superior e que tudo o que fazemos tem suas conseqüências. Seja bom e poderá colher frutos doces, e se fizer algo de ruim colherá frutos amargos.

- E Cibele? Eu não posso deixar a mulher da minha vida aqui. Posso levá-la comigo?

- Se assim ela quiser. – disse solenemente.

- Quanto tempo eu tenho para me aprontar e Cibele se aprontar? – indaguei a meu mestre.

- Um dia... Não mais do que isso. Quanto mais rápido melhor. E com você na Corte de Duryn eu fico em liberdade para fazer o que eu preciso.

E assim corri para a casa de Cibele para explicar o que estava acontecendo.

A princípio ela ficou um pouco receosa, mas quando falei que iríamos para Duryn logo se animou e conseguiu convencer seus pais de que iria comigo. Como eu pensei, eles nem reclamaram, afinal estávamos indo para um castelo, fazer parte da corte, o que mais eles poderiam querer de sua filha?

- Quanto tempo nós ficaremos lá, meu amor? – ela perguntou, fazendo uma carinha de desconfiança para mim.

- Infelizmente esta é uma pergunta que não posso responder Cibele. Estou indo a pedido de Demetrides. Acredito que seja por tempo indeterminado, ainda mais se eu for efetivado como mago da corte, o que, acredito eu, é o plano de meu mestre. – respondi, sendo o mais sincero possível.

Após as despedidas, fomos para a minha cabana, aos pés da montanha e ficamos aguardando Demetrides. Até que uma dúvida me bateu. Certo, iríamos para Duryn, mas como? Eu não fazia idéia de onde seria e o que usaríamos como veículo. Sempre ouvi falar de Duryn, mas nunca falamos de sua localização. E também não sei como seria a recepção na corte.

- Como será no castelo? Deve ser uma vida bem legal. – Cibele estava sonhadora.

- Olha, nunca fui a um castelo, mas acredito que seja uma vida bem interessante. Se você for da nobreza, é claro. – disse rindo.

- Ah, mas mesmo assim, uma vida no palácio é muito mais do que eu poderia ter sonhado em toda a minha vida.

Nisso eu dava razão a ela. Nenhum de nós teria sonhado com uma vida em um palácio qualquer. E eu só sabia de Duryn, não sabia dizer se havia mais alguma corte, mais algum castelo. Não sabia sequer a dimensão daquele reino. E agora estávamos de partida.

Ainda não tinha entendido a urgência de Demetrides e o porquê dessa pressa em me apresentar para o Rei Geldar de Duryn. Será que era para me proteger mesmo ou para proteger alguma coisa. Talvez algum conhecimento que me passara e eu não tivesse entendido ainda a importância da coisa toda. Nessas horas que eu mesmo me arrependia de ser tão imaturo e tão jovem. Eu aprendia rápido com os ensinamentos de Demetrides, mas quando eram conhecimentos tinha certa preguiça. Sei que com o tempo vou ter a mesma sabedoria do mestre, mas isso ia demorar, é claro. Imagine só, um homem com mais de trezentos anos!!

Cibele estava indo comigo. Ela não tinha a menor idéia do que ia encontrar, do que ia passar. E para ser sincero, nem eu. Como é que seríamos recebidos pelo Rei? De bom grado? Provavelmente, afinal, deveria conhecer a Demetrides.

Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas, mas deixei tudo para depois. Agora tinha que me preocupar com a viagem, que até então eu nem sabia como seria.

Demetrides não demorou muito e nos encontrou na minha cabana.

- Então? Pegaram tudo? Layo, não esqueça o cajado. Será sempre sua arma principal. Ele canaliza seu poder e tudo aquilo que aprendeu comigo. Você tem poderes que nunca experimentou e eu sinto isso em você meu jovem. Nunca se recrimine ou se subestime. Se duvidar será mais poderoso que eu.

- Eu acho isso impossível Mestre. – duvidei.

- Nunca duvide de sua capacidade, muito menos em momentos mais difíceis. E pode ter certeza que passará por momentos assim. Tome esta carta. Ela é endereçada ao Rei Geldar. Aqui explico tudo e ele lhe aceitará na corte e lhe nomeará conselheiro Real.

- Conselheiro, mas... Mestre... Eu sou jovem. – respondi completamente assustado, apavorado e aturdido.

- Bobagem. Eu não escreveria isso se soubesse que não tem essa capacidade. O tempo provará que tenho razão. Se eu não tivesse que ir até outro lugar eu iria com você, Layo. Eu mesmo me encarregaria de lhe apresentar ao rei, mas vejo que o tempo urge e está cada vez mais escasso. Não posso mais perder tempo. O inimigo, e agora vejo que é um inimigo poderoso, trabalha rápido. Tenho que ser mais rápido que ele e tentar descobrir como ele sabe de coisas que ninguém mais sabia.

- Mestre, isso tem a ver com as gemas da história que me contou? – indaguei-lhe.

- Sim Layo. Totalmente. E, pior, está acontecendo novamente. Alguém está tentando desencavar algo que aconteceu no passado e que eu considerava morto e enterrado.

- Certo. E como eu e Cibele vamos para Duryn? – eu estava curioso quanto a isso e Cibele que estava ao meu lado estava mais curiosa ainda. Afinal nem eu e nem ela nunca tinha saído de Tulan. Quanto mais da Lua de Vultor.

- Não se preocupe, já tenho tudo acertado. Do outro lado da montanha, está escondida uma nave, com um piloto que arrumei e ele os levará para Duryn. Já está pago e não precisam se preocupar com nada, apenas em curtir a viagem e se apresentarem ao rei quando chegarem. Você sempre me perguntou como era Duryn e você só precisava olhar para o céu. Aquela bola brilhante lá em cima não é uma lua, como esta. Lá é o planeta que conhecemos como Duryn. É lá que se encontra todo o reino, de onde eu vim e que ainda pretendo voltar. Depois que eu resolver tudo o que pretendo eu quero me encontrar com vocês no castelo. Arrumei também quatro cavalos e duas mulas para que vocês possam chegar até o outro lado. Vai demorar pelo menos mais um dia de viagem.

- Uau mestre. Você pensou em tudo. – eu estava realmente admirado. Parecia que tinha pensado em tudo. Só restava mesmo eu e Cibele começarmos a viagem e nos apresentar o mais rápido possível ao Rei Geldar, em Duryn. E só os deuses sabiam como estávamos ansiosos.

Nos despedimos e montamos em nossos cavalos. Nas mulas estavam provimentos para esta pequena viagem. E ainda fiquei preocupado e fiz uma última pergunta a meu mestre.

- E quanto aos cavalos e mulas? O que será feito deles quando os deixarmos antes de partir na nave?

- Estão comprados. A partir dali serão animais livres e poderão ficar no pasto. Naquela parte onde pegarão a nave tem muita água e alimento para eles, e enquanto isso não faltar, pode ter certeza que não irão sair dali. Agora podem ir.

E assim deixamos Tulan. Com um pressentimento ruim de que esta seria a última vez que a veríamos. E ao acenar para Demetrides, senti em meu coração que esta seria a última vez que o veria também. Fui. Com o coração apertado. Minha vida estava para mudar completamente. E eu não sabia o quanto. Nem sabia o que me esperava em Duryn.

As primeiras horas foram tranquilas, mas depois o tempo deu uma mudada e ventou muito. Nós paramos e montamos uma tenda, pois estava ficando quase impossível andar com os animais naquele vento e na poeira que levantava. E ficamos assim durante algumas horas. Até que começou a chover. Pelo visto a nossa pequena jornada não seria tão tranquila assim.

- Meu amor, aconteça o que acontecer esteja sempre do meu lado. Eu não quero te perder. – Cibele disse.

- Nunca vai me perder. E pode ter certeza que estarei sempre ao seu lado. Nos bons e maus momentos. Espero que sejam mais momentos bons. – falei e fiquei afagando os cabelos ruivos de Cibele, que eu adorava tanto. Ela tinha feito duas tranças e agora caíam para frente. Seus olhos brilhavam. Eu sentia o amor dela em seus olhos. E morreria por esse amor.

Após a chuva e o vento passar, retornamos ao nosso caminho. Chegamos à metade do caminho já tarde da noite e montamos novamente a tenda e os animais ficaram perto de uma relva, onde os deixamos amarrados. Diferente do dia, a noite foi maravilhosa, apesar de quente. Não havia nuvens e o céu estava estrelado. Fizemos planos de um dia conhecer algumas dessas estrelas juntos. Como? Isso eu não sabia, mas quem disse que não podíamos sonhar?

Ao amanhecer, retornamos ao nosso caminho e sem tropeços chegamos ao nosso destino. Realmente lá estava uma nave estacionada. Era a primeira vez que via uma nave. Achei demais. E vi que era toda de metal. Aquilo saía do chão? Cibele olhou e arregalou os olhos e fez a mesma pergunta que eu.

- Olá. Meu nome é Layo, está é minha noiva Cibele. Meu mestre Demetrides disse que estaria aqui esperando por nós.

- Sim, meu nome é Torrence, e fui regiamente pago por essa viagem, então meus amigos, sem mais demora, se tudo o que tiverem é o que está nos animais, o embarque será imediato.

Pegamos a nossa bagagem, liberamos os animais que foram para um pequeno lago com árvores e uma relva aparentemente apetitosa para elas e depois entramos naquela estranha máquina que voava.

Sentamos-nos e preparamos para a viagem. E quando aquela nave subiu suavemente foi um assombro, mas passado o susto inicial foi uma festa, pois de algumas janelinhas conseguíamos ver o quanto estávamos nos distanciando do chão e da Lua de Vultor. 

Não demorou muito e já estávamos no espaço aberto e comentei com Cibele que agora estávamos perto das estrelas que vimos na noite anterior. Ela abriu um sorriso e me deu um beijo carinhoso.

À nossa frente um planeta se aproximava e se agigantava para nós. Era nosso destino. Finalmente conheceríamos Duryn. Só não sabíamos o que iríamos encontrar. Novamente o coração ficou apertado. Naquele momento eu parecia um soldado prestes a entrar em uma guerra sangrenta... E nem ao menos tinha escolhido um lado para brigar. Claro que eu lutaria pela honra, pela decência e honestidade. Isso sempre ficou claro. Seguiria esses preceitos até o dia de minha morte, que eu esperava fosse bem tardia.


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