MAY DAY!! MAY DAY!! MAY DAY!!
Por Antonio
Henrique Fernandes
Era cedo na Base aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, e os
soldados estavam se preparando para um novo dia. O toque de alvorada tinha
acabado de tocar e todos, já devidamente uniformizados, dirigiam-se para o
refeitório.
Naquele dia, os pilotos iriam fazer testes em uma área
perigosa, que muita gente conhecia, mas que, ao mesmo tempo, não ligavam muito,
afinal já se fazia anos que nada acontecia naquela região.
Aos poucos os pilotos foram chegando, a maioria de grande
experiência em voos, tendo uns dois novatos, que tinham acabado de chegar da
Academia da Força Aérea (AFA).
As manobras de testes eram realizadas todos os dias, afim de
manter tanto as aeronaves em constante manutenção quanto os pilotos mais ágeis.
Os pilotos trabalhavam nas aeronaves Tucano,
que não tinha outra melhor para manobras aéreas, principalmente para quem
estava aprendendo.
Quando o Sargento Pereira viu a ordem do dia para os pilotos
até brincou com o Cabo Fortes.
— Olhaê, Fera... reconhece esse lugar? — Perguntou.
O Cabo Fortes olhou as coordenadas e ficou intrigado. Não
tinha se tocado do que o sargento estava falando.
— Não entendi, Sargento. O que são essas coordenadas? —
Respondeu, com sincera ingenuidade.
— Deixa de ser parvo, Fortes, vá ali no gabinete e pegue um
mapa que eu vou lhe dizer exatamente o que significam.
E lá se foi o cabo, com rapidez pegar o mapa pretendido pelo
sargento. Em questão de minutos voltou, todo esbaforido, mas ansioso pela
resposta que teria.
O Sargento Pereira, homem experiente, sabia de cor as
coordenadas de todos os lugares que os pilotos tinham realizados suas manobras
e aquela era especial. Não era muito usada, mas de vez em quando os “chefes”
faziam os batismos de novatos, usando precisamente esse local.
Abriu o mapa na frente de Fortes, usando um banco como mesa e
apontou para um ponto entre a América Central e América do Norte.
Perguntou novamente:
— E agora? Dá para ver?
Fortes olhou, e olhou e não conseguia enxergar o que o seu sargento
queria mostrar.
Pereira revirou os olhos e deu um soco no ombro de seu
comandado.
— Mas você é desligado mesmo hem, Fortes! — E ao colocar o
dedo indicador no mapa fez o desenho de um triângulo.
— Aaaaahhhhhhhh, agora entendi, Sargento. Sério mesmo que
eles vão manobrar os aviões nessa região? Mas, não é perigoso?
— O famoso Triângulo das Bermudas. Faz tempo que ninguém
comunica algum fato diferente ali. Apenas algumas alterações na parte elétrica,
mas que não chega a dar trabalho para ninguém.
— Eu sei que muitos navios afundaram e aviões caíram. —
Afirmou, nitidamente surpreso o Fortes.
— Sim. Temos relatos antigos de coisas estranhas acontecendo
exatamente dentro desse triângulo maldito, mas de uns tempos para cá parece que
acalmou. Vai que o monstro que mora no triângulo morreu, ou se encheu de tanto
que devorou. — Brincou o Sargento, ainda sério.
— O Senhor acha mesmo? Que é um monstro? — Perguntou o jovem,
claramente espantado.
— Deixa de ser besta, é claro que não existe monstro algum. O
que acontecia ali provavelmente era que existia alguma coisa que magnetizava os
instrumentos, tanto dos navios quanto dos aviões e eles ficavam a deriva e no
caso dos aviões fazia eles caírem.
Naquele momento entrou no hangar o Capitão Enrico. Filho de
italianos, era um dos principais pilotos da Base Aérea, com bastante
experiência, inclusive já tendo passado pelo famigerado Triângulo das Bermudas.
— Olá Sargento, os nossos brinquedinhos estão prontos para um
voo? — Perguntou.
— Sim Senhor, Capitão, todos cheios de combustível e tinindo
como novos, óleo até o talo. — Respondeu, fazendo a continência, sendo imitado
pelo Cabo.
— Muito bem. Hoje é dia de batismo e os aviões tem que estar
realmente muito bem para nada dar errado. — Falou, apontando para os dois
novatos que estavam dando uma conferida nas aeronaves.
— Não se preocupe, Capitão, eles vão ter o batismo que
merecem.
Ao dizer isso, deu um sorrisinho de lado, já imaginando o
desespero dos novatos, pois o batismo também era uma forma de brincar com eles.
Já que em determinando momento, o capitão, que tinha o controle dos caças
pilotados pelos novatos, brincava de ligar e desligar os instrumentos. Era uma
coisa que tinham preparado, justamente para dar esse susto. Não era nada
demais. Apenas desligavam momentaneamente os instrumentos à distância, com uma
espécie de controle remoto.
Isso, somado ao local onde estavam indo ia dar um susto bem
grande. Ou assim esperavam. Na realidade o que se esperava era ver o que os
pilotos novos fariam em uma situação desesperadora em que não tinham
instrumentos e apenas confiança em seus instintos. O Triângulo das Bermudas era
apenas um plus à situação emergencial.
— Vamos nos preparar. Dentro de quinze minutos estaremos
prontos para a missão. — Ordenou o Capitão Enrico.
E todos os membros, tripulantes ou não começaram a se mexer.
Os mecânicos deram os últimos ajustes nos caças e os pilotos começaram a
colocar seus equipamentos. Subiram uma escadinha e em instantes já estavam
devidamente acomodados no cock pit dos Tucanos.
Um por um cada piloto conduziu sua aeronave para fora do
hangar e se dirigiram para a pista de decolagem. Sempre um atrás do outro, em
fila indiana.
Na frente ia o seu Capitão e enquanto aguardava a ordem para
decolagem ia dando instrução a todos os seus comandados. Um total de onze
caças. Sendo que o capitão ia sempre na frente e no meio. O restante ia em
cinco de cada lado. Mas isso só depois da decolagem. Era formação de ataque.
Ao sinal da autorização de decolagem, vinda da Torre de
Controle da Base, o capitão moveu o seu avião para a frente e partiu, sendo
seguindo pelos outros dez pilotos.
— Lá vão eles. Eu daria o meu braço direito para ver a reação
dos novatos. Segundo os pilotos na maioria das vezes é hilário. Mas não dá
realmente para prever o que vão fazer lá em cima.
— Sargento, o senhor nunca quis ser piloto? — Perguntou o
Cabo Fortes.
— Não, cabo, apesar de ser Sargento da Aeronáutica, sempre
quis ficar com os pés bem junto ao solo. O máximo que consegui foi fazer o
treinamento de salto. Não que eu tenha medo, mas no solo eu tenho mais controle
das coisas. E vamos trabalhar que o dia será longo.
E assim os dois voltaram para o hangar e continuaram os seus
afazeres.
No alto, o capitão começou a dar instruções aos pilotos,
deixando os novatos na rabeira da formação, um de cada lado.
— Senhores, e senhora, já que a nossa querida Tenente Silvana
faz parte desse treinamento, vocês têm no banco de dados do avião a sua rota,
então, sem mais delongas, partiremos imediatamente para lá. É onde faremos as
nossas manobras de guerra. Em mar aberto e internacional.
— Obrigada, pela parte que me toca, Capitão, mas tem certeza
que é um local adequado, já que estamos com novos pilotos? — Perguntou, já
dando início ao teatro.
— Ora Tenente, é claro que é adequado. Temos que estar
preparados para quaisquer situações de estresse. — Respondeu.
— O que querem dizer com local adequado e situações de
estresse? — Perguntou um dos jovens pilotos.
— Bem, Tenente, o que
quero dizer é que vamos sobrevoar uma área de tensão bem conhecida do mundo.
Algum de vocês já ouviu falar do Triângulo das Bermudas?
Ambos os jovens empalideceram.
— Esse será o batismo de vocês. E não se preocupem. Ninguém
que a gente trouxe para cá caiu ou foi abduzido por ETs, ok? Ao menos até hoje.
— Finalizou, dando um sorrisinho.
— Meus queridos, vocês vão adorar. — Disse a Tenente Silvana,
sendo acompanhada pelos outros experientes pilotos.
E logo estavam na famosa área, onde iniciaram os
procedimentos de manobras, tanto defensivas quanto de ataque. E em dado momento,
o capitão, de posse do controle remoto dos instrumentos dos aviões dos novatos
clicou no botão, fazendo com que tudo que estivesse no painel deles apagasse.
— Capitão?! Alguma coisa está acontecendo. Os instrumentos no
meu painel apagaram. — Disseram quase em uníssono os novatos.
Sorrindo, o capitão esperou alguns segundos e clicou
novamente no controle remoto. Instantaneamente o painel das aeronaves piscaram
e voltaram a funcionar.
Os rapazes ficaram mais alegres, mas durou pouco, pois o
capitão desligou de novo. Mais alguns segundos e clicou ligando os painéis.
Queria passar a impressão de que estavam passando por algum local magnético que
atrapalharia os instrumentos de voo.
— Calma senhores, no meu painel está acontecendo o mesmo.
Isso é normal, logo volta ao que era antes e a gente termina as manobras.
Dito isso, ele clicou no controle remoto, mas os painéis não
acenderam. E os novatos continuaram a reclamar, e para piorar diziam que
estavam com estática nos capacetes e não estavam conseguindo ouvir direito os
outros colegas.
Isso alarmou o capitão. Clicou mais duas vezes o controle que
tinha nas mãos e uma coisa que não esperava aconteceu. O seu painel também
apagou. Os aviões continuaram funcionando, mas não tinham as funções de painel
em ordem, e isso significava que dependia inteiramente de sua visão. Com apenas
os olhos como instrumento para se situar.
Como se a coisa não bastasse, entraram em nuvens muito
baixas, aparentemente um nevoeiro denso e estavam agora literalmente em um voo
cego. Não tinham instrumentos e não tinham visualização do cock pit.
— Alguém está vendo o que estou vendo? — Perguntou o capitão,
pois parecia que o sol havia descido e se posicionado bem à frente dos pilotos.
Era um clarão que nunca tinha visto, forte, cegante e o pior, agora ele não
tinha mais o controle da aeronave.
Sem controle, só o que restou aos pilotos foi clamar por
ajuda:
— May day, may day!! Perdemos o controle dos aviões e não
temos condições de informar a nossa localização — Bradava o capitão, mas a
única coisa que ouvia era estática. Nem os seus apavorados e surpresos
companheiros de voo conseguiam se comunicar.
— May day!! May day!! May day!! — Continuava pedindo ajuda,
mas não havia resposta. Apenas estática.
E sem condições de desviar, foram seguindo até o encontro do
clarão.
Naquele mesmo instante, na base aérea, na Torre de Controle,
um controlador de voo viu que os onze pontos que estavam no monitor à sua
frente instantaneamente desapareceram.
FIM
continua...
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