KRAKEN!!!
Por Antonio Henrique Fernandes
Todo mundo conhece uma lenda e, na sua maioria é exatamente
isso: apenas uma lenda!
No entanto, toda lenda tem um fundo de verdade, e o que
contarei a seguir, o que presenciei uma vez, realmente vinha do fundo.
Meu nome é Daniel e eu estava com alguns amigos ricos que
gostavam de viajar de iate. Éramos um grupo de cinco mulheres e cinco homens,
portanto, cinco casais, e todos a bordo do iate ALVORECER, de meu amigo Tonhão.
O iate era grande, de uns 100 pés (aproximadamente 30 metros)
e uma grande tripulação que sempre nos atendia sorrindo. Estava claro que eram
bem pagos. O iate tinha alguns jet skis, e roupas de mergulho. Além de TV e uma
mesa de bilhar para aqueles momentos de tédio na viagem pelo mar.
— Então, meus amigos, o que acharam do meu barquinho? —
Perguntou Tonhão.
— Ah, realmente é pequeno. Já vi maiores. — Falei, caindo na
gargalhada. Na realidade eu nunca tinha entrado em um iate daquele tamanho.
Rafaela até me deu uma cotovelada com a intenção de eu parar de rir.
Como disse antes, estávamos em casais e comigo estava a minha
namorada Rafaela. A família dela era rica e também tinha um iate, mas era
menor. Eu não era pobre, mas estava longe de ser muito rico.
Os outros casais eram Gérson e Camila, Tonhão e Sueli, Jorge
e Suzana e Carlos e Magda.
Partimos cedo do porto e, segundo o capitão do navio, o
Comandante Noronha, o nosso destino seria a Costa da África, mais precisamente
a África do Sul, um belo lugar e dali poderíamos subir o Atlântico e fazer também
uma visita em Portugal. A viagem duraria alguns dias que seriam preenchidos com
disposição, brincadeiras e os brinquedos que havia a bordo.
A meteorologia previa tempo bom. Não deveríamos ter problema
com tempestade. Mas, se por acaso alguma aparecesse sem avisar, muito
provavelmente seria contornada, afirmara o comandante Noronha.
— Este barco é equipado com o que tem de melhor em tecnologia
marítima, inclusive um radar para tempestades. Se alguma aparecer e for muito
grande, vai ter muito balanço de ondas, mas poderemos contornar, evitando
alguns dissabores a bordo. Mas reafirmo, a possibilidade de pegar alguma
tempestade é mínima.
Com isso, nós ficamos mais tranquilos.
Os primeiros dias foram incríveis, muito sol, céu azul,
pouquíssimas nuvens, o que fez as mulheres aproveitarem bastante para se
bronzear, enquanto nós, os homens, brincávamos com os jet skis.
— Olha lá... aquelas mocinhas estão ficando para frente, tudo
sem a parte de cima do sutiã. — Apontou Jorge. E realmente as nossas namoradas
estavam só com a calcinha do biquíni.
— É para pegar um bronzeado no corpo inteiro e não deixar
marquinhas. Coisas de Mulher. Eu particularmente adoro. — Disse Gérson.
— Por mim podiam é ficar todas nuas que não haveria problema
algum. — Afirmou rindo o Tonhão.
Ao menos o espetáculo era lindo. As moças eram lindas e
ficavam bem de qualquer maneira.
O tempo foi passando e a gente ia se divertindo como podia. O
problema foi quando nos aproximamos da Costa Africana.
— Senhor, tem uma embarcação se aproximando. — Falou o
Comandante Noronha, muito sério.
— Não senhor. Ainda estamos em águas internacionais. Aqui não
teriam jurisdição.
— Deve ser outro iate que viu a nossa aproximação e querem
ver o que temos. Vai ser legal trocar informações. — Afirmou Carlos.
O que
fazia sentido também. Segundo o nosso comandante, essa área era muito
frequentada por navios de luxo, navios cargueiros e alguns iates. Aí ele se lembrou
de uma coisa que nos fez ficar com receio... também era frequente a aparição de
navio pirata. Dos modernos, claro.
E foi justamente o pior dos temores que veio até nós.
O barco, ou melhor, uma pequena corveta, surgiu do horizonte
e apresentava lá em cima a indefectível bandeira pirata de um crânio com ossos
cruzados e no convés vários membros da tripulação armados até os dentes.
Não tivemos quaisquer chances. Os piratas nos abordaram, e
como estavam todos armados não tivemos como reagir. Logo já estávamos rendidos.
Todos nós falávamos inglês e o pirata também falava inglês com
um sotaque muito carregado. Mal conseguíamos entender, mas os gestos eram mais
claros que a língua. Principalmente as armas apontadas para nós que faziam
gestos para que saíssemos do iate e fôssemos para o navio pirata.
O tempo todo eu pedia para os outros ficarem calmos, que nada
ia acontecer. Dizia isso principalmente para as meninas, que começaram a ficar
apavoradas e poderiam ter um surto dentro do navio.
Segundo o chefe pirata, nós seriamos feitos reféns e pediriam
resgate por todos nós. Não seria problema, afinal, tirando eu, todos os demais
eram ricos.
— Vocês são ricos. Pediremos muito dinheiro para que soltem
todos. E depois todos irão embora, felizes. — Falou o que era o líder dos
piratas, sorrindo. E todos os que estavam ao seu redor também riram... nós
acabamos rindo também, mas mais de nervoso do que qualquer outra coisa.
Todos nós fomos levados para o interior do navio pirata
enquanto que a tripulação do nosso iate permanecia a alguma distância, parado.
Normalmente os piratas teriam destruído a outra embarcação, porém, queriam que
levassem a notícia de nossa captura e o pedido de resgate, então ficaram
aguardando, sendo apenas vigiados pelos piratas armados.
Dentro daquela corveta tinha várias celas abertas,
provavelmente nosso lar pelos próximos dias (sendo otimista), o que também
mostrava que faziam aquilo com frequência. O que de certa forma ajudava era o
fato de que as celas estavam vazias. Das duas uma, ou receberam algum resgate
por reféns anteriores ou ... se livraram deles. Logo espantei esse pensamento
da cabeça. Eu tinha que ter fé que as coisas iam dar certo, pagariam o resgate
e sairíamos dessa ilesos.
O pedido do resgate era exatamente o que os piratas estavam
fazendo quando aconteceu! Foi tudo muito rápido e, a princípio, ninguém sabia
porque o navio começou a balançar de um lado para o outro. E gritos. Ouvimos
muitos gritos. Os piratas, que eram africanos começaram a falar em seu dialeto
de origem e ninguém entendia nada.
— O que está acontecendo? Que barulho é esse? Será que alguém
seguiu os piratas e estão nos resgatando? — Questionei.
— Se é um resgate não sei, até porque afundar um navio onde
estão os reféns não deve ser uma boa ideia. Mas, espero que seja alguma coisa
parecida. — Respondeu Tonhão.
Ele também fez questão de frisar que alguém do iate possa ter
usado um telefone global ou o rádio para chamar ajuda. Era uma possibilidade,
mas remota, eu pensei, pois não tivera tempo para isso.
Com a confusão, eu, Rafaela e meus amigos aproveitamos para
fugir. Subimos as escadas e saímos para o convés. O navio parecia estar sendo
amassado, ou melhor dizendo, achatado.
Quando chegamos ao convés superior, nada em nossa vida tinha
preparado para aquilo. Para aquele horror em forma de ... Tentáculos!!! E gigantes!!!
— Que Porra é essa???!!! — Exclamei, olhando para aqueles
tentáculos.
Ficamos em estado hipnótico, olhando para uma coisa que não
deveria existir. E foram os gritos que nos despertaram. Entre aqueles gritos em
outros dialetos eu só entendi uma palavra: KRAKEN!
Os vários tentáculos enormes tinham ventosas e grudavam em
tudo. Alguns seguravam piratas e outros simplesmente esmagavam tudo o que
batia. E isso incluía os nossos captores. O espetáculo era dantesco. Eram
muitos tentáculos e eu fiquei parado, ali, olhando como se fosse um filme em
câmera lenta.
Fomos despertados pelo barulho do navio se rachando e
corremos para a borda do navio, olhamos para onde estava o iate, que havia se
afastando um pouco, e saltamos. O fato de naquela região ter tubarão não
impediu que fôssemos para a água. Tivemos sorte, pois, aparentemente, nenhum
tubarão apareceu. Provavelmente procuraram águas mais tranquilas do que aquela
naquele momento. Peixes espertos. Só restou a nós enfrentar ou fugir do
monstro.
Assim, chegamos em segurança no iate Alvorecer e fomos
“pescados” por seus tripulantes. Imediatamente o comandante Noronha deu a ordem
para sairmos o mais rápido dali.
Ele também tivera alguns problemas com piratas, mas os que
estavam vigiando ficaram atônitos com o que estava acontecendo e partiram para
ajudar os amigos, um ou outro foram colocados com a devida gentileza para fora
do iate por Noronha e os outros membros da tripulação.
De longe, já mais calmos, vimos o navio pirata ser quebrado
ao meio como se fosse uma vareta e ser afundado, levando tudo e todos.
Juramos nunca contar a ninguém o que vimos naquele dia. Até
porque ninguém acreditaria em nós. Agimos como se nada tivesse acontecido e
continuamos nossa viagem, evitando passar pelo mesmo local.
Aquela imagem dos tentáculos afundando um navio era qualquer
coisa de surreal. E agradeço a Deus por ter visto apenas os tentáculos. Sempre
me pergunto como seria a face do monstro e as piores imagens vêm à minha mente.
Rafaela ainda tem pesadelos, mas com o tempo isso vai passar.
E logo será apenas uma vaga lembrança de uma viagem a passeio que quase
terminou em tragédia. Quer dizer, até terminou em tragédia, mas não para a
gente.
FIM
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