quarta-feira, 8 de março de 2017

VIAGEM LITERÁRIA - Conto Do outro Lado - 1a Parte - Lendas Marinhas

Do outro lado. 1ª parte


Continuação do conto May Day! May Day! May Day!





Por Antonio Henrique Fernandes



Após o clarão passar, tudo o que conseguiram ver foi uma imensa terra à frente. A faixa litorânea ficara para trás, e não entendiam o motivo. Não era para ter terra no percurso. Não tão cedo, pelo menos.

O Capitão Enrico olhou os instrumentos à sua frente e não conseguiu entender nada. Não estavam funcionando como devia. O GPS não indicava com exatidão onde estavam. Algumas vezes ele teve que dar umas pequenas batidas no painel.

Testou o rádio para se comunicar com os demais pilotos. Ainda tinha estática, mas quando ouviu a Tenente Silvana respondeu ao seu comando ficou mais aliviado.

— Capitão? O painel de controle de seu cockpit está funcionando? — Perguntou Silvana.

— Não. Ou pelo menos não funciona como deveria... alguns dados aqui estão malucos. O GPS aparentemente não está funcionando. Essas coordenadas não existem.

Para dar um bônus ao que estavam passando, o sinal de que o combustível estava no fim começou a piscar, deixando o capitão preocupado. O que tinham dava para ir e voltar tranquilo para a Base Aérea. Não entendia como poderia estar acabando. Não tinham ido muito além.

Mas quando prestou atenção à terra que estava na frente não conseguia reconhecer.

Abaixo dos pilotos havia uma terra enorme, com montes e uma floresta densa. Poderiam jurar que estavam sobrevoando a Amazônia ou qualquer mata tropical, o que não fazia sentido algum, pois sobrevoavam o Oceano Atlântico há alguns minutos. E na rota deles não havia terra.

Mas o pior de tudo... não havia onde pousar os aviões. Tudo era floresta e montes. Não havia um terreno apropriado. Como poderiam descer sem algum tipo de risco para os pilotos?

— Senhor? À sua direita, tem o que parece ser uma clareira, acho que dá para a gente aterrissar com os aviões com alguma segurança. — Disse o 2º Tenente Paiva, um dos novatos.

— Muito bem. Todos naquela direção, vamos primeiro dar uma passada por cima e ver se realmente tem condições de nós descermos com segurança. Depois em fila indiana, um a um desce.

E foi exatamente o que fizeram. Deram um panorama pelo local e após verificarem que tinha espaço suficiente para descerem todos, voltaram em fila indiana e pousaram seus aviões.

A maior preocupação agora era saber onde estavam, e, claro, depois conseguir voltar para casa.

O capitão Enrico foi o primeiro a sair do avião. Tirou o capacete, colocou de lado e saiu do cockpit, fazendo as primeiras explorações do ambiente. Silvana saiu de sua aeronave e foi até o capitão.

— O que o senhor acha, Capitão? Tem alguma ideia do que aconteceu?

Enrico colocou as mãos na cintura, deu uma breve olhada ao redor, e, balançando a cabeça negativamente, respondeu:

— Ainda preciso fazer uma análise da situação, mas algo me diz que não estamos onde deveríamos estar. Aquele clarão nos tirou da rota, no entanto, para onde? O GPS do avião não soube indicar a nossa localização. E dê uma olhada nessas árvores e plantas. Nunca vi nada parecido.

— Eu também não. E dando uma vista geral pelo alto antes de a gente descer, não vi sinal de cidades. Ou algo que se pareça com civilização. Nem ao menos uma aldeia. Já que claramente estamos em uma floresta, deve ou deveria ter uma vila

— Concordo com você, Silvana. Veja ali, tem um monte, vamos todos até lá e fazer um acampamento provisório. Lá também teremos uma noção para onde ir. Cada um de vocês, pegue o kit de sobrevivência que temos no cockpit e vamos partir, dentro de no máximo dez minutos. Aquele sol baixando ali não me alegra. Em ambiente como este, desconhecido e provavelmente hostil, não é bom que estejamos sem alguma defesa, mais ainda no escuro.

Imediatamente os pilotos foram até suas aeronaves e pegaram os kits, depois seguiram o capitão até o monte que ele havia indicado.

Pelo caminho, foram tentando absorver o que tinha acontecido a eles, mas ninguém chegou a uma explicação plausível. Tudo o que sabiam na certeza era que aquela terra não deveria estar ali. O ar estava um pouco ácido, mas nada que pudesse causar algum mal na respiração.

As árvores que passaram eram altas, de troncos grossos. As folhas eram imensas. Uma das preocupações do capitão era encontrar água potável. Isso era essencial se quisessem sobreviver, mesmo em um local desconhecido.

Com uma pequena faca, Enrico, líder do esquadrão, foi passando e abrindo caminho entre as plantas. Em determinando momento, a floresta ficou tão fechada que nem o sol já conseguiam enxergar. E ficou escuro a ponto de ter que usar uma lanterna. Ainda bem que tinha no kit. Enrico também notou que antes silenciosa, a floresta começava a produzir os seus barulhos normais. Pássaros noturnos, pequenos silvos e gritos. Até então não ouviram nada que os alarmasse, como um rugido, por exemplo.

A pior coisa, pensou Enrico, era não ter uma arma de fogo para poder se defender. A única pistola que tinha no kit era a de sinalização e ele tinha certeza que não iria ser útil ali. Era algo que gritava por dentro. E a cada passo que dava naquela terra estranha era que não existia nos mapas.

— Capitão? — Chamou o 2º Tenente Soares, um dos pilotos novatos.

— Diga tenente. — Respondeu Enrico.

— Não sei se o senhor ouviu, mas bem à nossa esquerda eu ouvi um barulho como algo se arrastando. Não sei bem o que pode ter sido, mas foi muito desagradável e senti o pelo da nuca arrepiar.

Antes que terminasse de falar, Enrico olhou para trás do piloto e arregalou os olhos. O que ele viu não deveria existir. Uma cobra. Mas uma cobra gigantesca. Devia ter uns 15 ou 20 metros mais ou menos e antes que pudessem fazer alguma coisa a cobra já foi agarrando um dos pilotos, o 2º Tenente Elias, que era o que estava mais próximo.  O grito que ele deu foi horrível e assim que a cobra, com ele na boca, voltou para a floresta tudo se aquietou.

— Não podemos mais fazer nada pelo pobre Elias, então vamos depressa para cima, para aquele monte. E precisamos montar um esquema de segurança.

Com as lanternas na mão, correram o mais depressa que conseguiram. Assim que chegaram ao monte, fizeram uma revista rápida, à procura de uma caverna ou gruta, que seria ideal para passar à noite.

De qualquer forma, se fossem obrigados a dormir ali mesmo teriam que fazer uma grande fogueira e montar turnos de guarda. Não sabiam o que poderia haver naquela floresta. E se tudo fosse grande como aquela cobra, estariam em grandes apuros.

Como esperado, não encontraram um local melhor para se proteger, acenderam uma fogueira e fizeram uma escala de turnos, onde o Capitão Enrico seria o primeiro, seguido por Silvana. Todos ficaram com as facas na mão, prevendo que algo ruim pudesse acontecer e já estariam preparados. Se acomodaram como puderam e tentaram dormir. O dia foi longo e estranho. 

Esperavam que o dia seguinte fosse menos dramático.

..continua


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