Do outro lado. 1ª parte
Continuação do conto
May Day! May Day! May Day!
Por Antonio Henrique Fernandes
Após o clarão passar, tudo o que conseguiram ver foi uma
imensa terra à frente. A faixa litorânea ficara para trás, e não entendiam o
motivo. Não era para ter terra no percurso. Não tão cedo, pelo menos.
O Capitão Enrico olhou os instrumentos à sua frente e não
conseguiu entender nada. Não estavam funcionando como devia. O GPS não indicava
com exatidão onde estavam. Algumas vezes ele teve que dar umas pequenas batidas
no painel.
Testou o rádio para se comunicar com os demais pilotos. Ainda
tinha estática, mas quando ouviu a Tenente Silvana respondeu ao seu comando
ficou mais aliviado.
— Capitão? O painel de controle de seu cockpit está
funcionando? — Perguntou Silvana.
— Não. Ou pelo menos não funciona como deveria... alguns
dados aqui estão malucos. O GPS aparentemente não está funcionando. Essas
coordenadas não existem.
Para dar um bônus ao que estavam passando, o sinal de que o
combustível estava no fim começou a piscar, deixando o capitão preocupado. O
que tinham dava para ir e voltar tranquilo para a Base Aérea. Não entendia como
poderia estar acabando. Não tinham ido muito além.
Mas quando prestou atenção à terra que estava na frente não
conseguia reconhecer.
Abaixo dos pilotos havia uma terra enorme, com montes e uma
floresta densa. Poderiam jurar que estavam sobrevoando a Amazônia ou qualquer
mata tropical, o que não fazia sentido algum, pois sobrevoavam o Oceano Atlântico
há alguns minutos. E na rota deles não havia terra.
Mas o pior de tudo... não havia onde pousar os aviões. Tudo
era floresta e montes. Não havia um terreno apropriado. Como poderiam descer
sem algum tipo de risco para os pilotos?
— Senhor? À sua direita, tem o que parece ser uma clareira,
acho que dá para a gente aterrissar com os aviões com alguma segurança. — Disse
o 2º Tenente Paiva, um dos novatos.
— Muito bem. Todos naquela direção, vamos primeiro dar uma
passada por cima e ver se realmente tem condições de nós descermos com
segurança. Depois em fila indiana, um a um desce.
E foi exatamente o que fizeram. Deram um panorama pelo local
e após verificarem que tinha espaço suficiente para descerem todos, voltaram em
fila indiana e pousaram seus aviões.
A maior preocupação agora era saber onde estavam, e, claro,
depois conseguir voltar para casa.
O capitão Enrico foi o primeiro a sair do avião. Tirou o
capacete, colocou de lado e saiu do cockpit, fazendo as primeiras explorações
do ambiente. Silvana saiu de sua aeronave e foi até o capitão.
— O que o senhor acha, Capitão? Tem alguma ideia do que
aconteceu?
Enrico colocou as mãos na cintura, deu uma breve olhada ao
redor, e, balançando a cabeça negativamente, respondeu:
— Ainda preciso fazer uma análise da situação, mas algo me
diz que não estamos onde deveríamos estar. Aquele clarão nos tirou da rota, no
entanto, para onde? O GPS do avião não soube indicar a nossa localização. E dê
uma olhada nessas árvores e plantas. Nunca vi nada parecido.
— Eu também não. E dando uma vista geral pelo alto antes de a
gente descer, não vi sinal de cidades. Ou algo que se pareça com civilização.
Nem ao menos uma aldeia. Já que claramente estamos em uma floresta, deve ou
deveria ter uma vila
— Concordo com você, Silvana. Veja ali, tem um monte, vamos todos
até lá e fazer um acampamento provisório. Lá também teremos uma noção para onde
ir. Cada um de vocês, pegue o kit de sobrevivência que temos no cockpit e vamos
partir, dentro de no máximo dez minutos. Aquele sol baixando ali não me alegra.
Em ambiente como este, desconhecido e provavelmente hostil, não é bom que
estejamos sem alguma defesa, mais ainda no escuro.
Imediatamente os pilotos foram até suas aeronaves e pegaram
os kits, depois seguiram o capitão até o monte que ele havia indicado.
Pelo caminho, foram tentando absorver o que tinha acontecido
a eles, mas ninguém chegou a uma explicação plausível. Tudo o que sabiam na
certeza era que aquela terra não deveria estar ali. O ar estava um pouco ácido,
mas nada que pudesse causar algum mal na respiração.
As árvores que passaram eram altas, de troncos grossos. As
folhas eram imensas. Uma das preocupações do capitão era encontrar água
potável. Isso era essencial se quisessem sobreviver, mesmo em um local
desconhecido.
Com uma pequena faca, Enrico, líder do esquadrão, foi
passando e abrindo caminho entre as plantas. Em determinando momento, a
floresta ficou tão fechada que nem o sol já conseguiam enxergar. E ficou escuro
a ponto de ter que usar uma lanterna. Ainda bem que tinha no kit. Enrico também
notou que antes silenciosa, a floresta começava a produzir os seus barulhos normais.
Pássaros noturnos, pequenos silvos e gritos. Até então não ouviram nada que os
alarmasse, como um rugido, por exemplo.
A pior coisa, pensou Enrico, era não ter uma arma de fogo
para poder se defender. A única pistola que tinha no kit era a de sinalização e
ele tinha certeza que não iria ser útil ali. Era algo que gritava por dentro. E
a cada passo que dava naquela terra estranha era que não existia nos mapas.
— Capitão? — Chamou o 2º Tenente Soares, um dos pilotos
novatos.
— Diga tenente. — Respondeu Enrico.
— Não sei se o senhor ouviu, mas bem à nossa esquerda eu ouvi
um barulho como algo se arrastando. Não sei bem o que pode ter sido, mas foi
muito desagradável e senti o pelo da nuca arrepiar.
Antes que terminasse de falar, Enrico olhou para trás do
piloto e arregalou os olhos. O que ele viu não deveria existir. Uma cobra. Mas
uma cobra gigantesca. Devia ter uns 15 ou 20 metros mais ou menos e antes que
pudessem fazer alguma coisa a cobra já foi agarrando um dos pilotos, o 2º
Tenente Elias, que era o que estava mais próximo. O grito que ele deu foi horrível e assim que
a cobra, com ele na boca, voltou para a floresta tudo se aquietou.
— Não podemos mais fazer nada pelo pobre Elias, então vamos
depressa para cima, para aquele monte. E precisamos montar um esquema de
segurança.
Com as lanternas na mão, correram o mais depressa que
conseguiram. Assim que chegaram ao monte, fizeram uma revista rápida, à procura
de uma caverna ou gruta, que seria ideal para passar à noite.
De qualquer forma, se fossem obrigados a dormir ali mesmo
teriam que fazer uma grande fogueira e montar turnos de guarda. Não sabiam o
que poderia haver naquela floresta. E se tudo fosse grande como aquela cobra, estariam
em grandes apuros.
Como esperado, não encontraram um local melhor para se
proteger, acenderam uma fogueira e fizeram uma escala de turnos, onde o Capitão
Enrico seria o primeiro, seguido por Silvana. Todos ficaram com as facas na
mão, prevendo que algo ruim pudesse acontecer e já estariam preparados. Se
acomodaram como puderam e tentaram dormir. O dia foi longo e estranho.
Esperavam que o dia seguinte fosse menos dramático.
..continua
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por nos enviar uma mensagem!